Reclusos ajudam a decorar Noite Branca de Braga

Mais de um quilómetro da decoração da cidade de Braga na Noite Branca será da responsabilidade de seis reclusos do Estabelecimento Prisional de Braga. Os trabalhos começaram no final do mês de Junho e dos seis reclusos que trabalharam na instalação da autoria de Madalena Martins, um deles poderá até apreciar in loco o trabalho que estará exposto, dentro de pouco mais de uma semana, em várias ruas do centro histórico. A instalação artística é composta por seis mil garrafas de plástico e 4500 metros quadrados de geotêxtil.

Dos seis reclusos que participaram nos trabalhos, dois deles saíram entretanto deste estabelecimento. Um em liberdade, outro transferido.

Na tarde desta segunda-feira, Pedro, Márcio, Diogo e Luís receberam uma visita diferente do habitual. O presidente do município de Braga foi agradecer o contributo destes reclusos e a importância de projectos que promovam a reinserção. Agradecimentos retribuídos pelos quatro jovens em nome de todo o grupo, com direito a cábula para não deixar nada por dizer. Reconhecem a importância destes trabalhos que ajudam a “passar o tempo”. “Bons momentos de partilha e convívio” associados ao sentimento de pertença e “responsabilidade”, dizem. 

Desde o final de Junho até meados de Agosto, as manhãs foram passadas numa pequena sala com garrafas de plástico vazias, fita-cola e geotêxtil. “Um bocadinho de mim vai lá para fora nestas garrafas”, atira um dos envolvidos no projecto. Todos estão disponíveis para participar em novos trabalhos enquanto aguardam pela sua saída. Horas de trabalho que ajudam a “espairecer”, recompensadas financeiramente com um contributo atribuído pela autarquia.

“Brarroco, o ser que vai aparecer na Noite Branca transmitindo emoções”

Madalena Martins é a Directora Artística do projecto. Habituada a trabalhar com reclusos, a maioria dos trabalhos que desenvolve são criados através de materiais “em final de vida”. Os objectos “ganham uma segunda vida” pela mão destes reclusos que procuram também uma nova oportunidade.

A instalação artística desenvolvida com a ajuda dos seis reclusos conta com seis mil garrafas de plástico. Uma instalação que passa por várias ruas” da cidade. “Uma linha branca, única, transparente e contínua para que possa irradiar a luz que foi colocada no seu interior. “Uma linha que tem um pelo gigante e que acorda à noite com a luz”, explica a responsável pelo projecto artístico.  

“É muito bonito conseguirmos construir uma coisa nova com materiais em final de vida e depois este enquadramento da prisão em que estas pessoas têm oportunidade de construir coisas bonitas. O trabalho é a reinserção verdadeira que existe para estas pessoas”, defende Madalena Martins.

Apelidado de ‘Brarroco’, o projecto com constrastes de luz e cor é nada mais nada menos de que “uma linha orgânica, solta”, que ao longo dos últimos meses proporcionou momentos de ‘liberdade’ aos reclusos envolvidos.

“Os momentos em que estão a trabalhar são momentos de liberdade” – Isabel Duarte Paulo

Isabel Duarte Paulo, Directora do Estabelecimento Prisional de Braga reconhece a importância dos trabalhos no interior das prisões. Momentos que “reforçam competências, dão novas competências”, preparando os reclusos para que em liberdade possam “regressar à actividade laboral”. 

Missões que contribuem para o fortalecimento da “auto-estima e que melhoram o relacionamento entre eles e com a família”, explica. 

Os reclusos que participam são recompensados monetariamente pelos trabalhos realizados. No caso, o contributo foi de 100 euros. Um valor que permite a aquisição de bens próprios de consumo como tabaco e café, “deixando de ser um peso para os familiares”, lembra aquela responsável, acrescentando que “estes momentos em que estão a trabalhar são momentos de liberdade”.

Nesta altura o estabelecimento prisional de Braga conta com cerca de 90 reclusos, 43 deles, em prisão preventiva, trabalham no interior da prisão. Segundo Isabel Duarte Paulo, metade da população deste estabelecimento prisional trabalha em obras de manutenção e limpeza do próprio edifício. Apenas quatro (todos condenados) se encontram fora do estabelecimento, a trabalhar em Priscos.

Autarca realça interesse do município de Braga em ajudar a reintegrar

Esta segunda-feira, numa visita ao estabelecimento prisional de Braga, o autarca Ricardo Rio lembrou o interesse do município em auxiliar na reintegração destes reclusos na sociedade civil, referindo o exemplo do projecto de Priscos. “Queremos demonstrar que estamos de braços abertos para poder integrar esta população na comunidade dando-lhes outras perspectivas para o seu futuro, e dar eco público de que temos, dentro do estabelecimento prisional, pessoas com muitas aptidões de natureza profissional e pessoal que podem ser canalizadas no seu futuro em liberdade”, vincou.

A Noite Branca de Braga decorre de 31 de Agosto a 2 de Setembro no centro histórico da cidade.