“Força Humana”: em busca de um sonho chamado Europa

Partindo do épico poema “Os Lusíadas”, nasceu a “Força Humana”, a nova criação de António Fonseca e José Neves. Guimarães será palco da estreia absoluta da peça teatral, esta sexta-feira à noite, na Plataforma das Artes e da Criatividade. Com a música de Paulo Furtado, nasceu uma criação que transporta a epopeia de Luís de Camões para os tempos modernos.


“Nós não estamos a fazer «Os Lusíadas». Apenas respigamos algumas partes da obra que achamos que se encaixavam numa narrativa possível dos tempos em que vivemos hoje”, começou por explicar, em entrevista à RUM, o actor António Fonseca. 

“Os Lusíadas” conta a história de um povo que sonhou ir a Índia. “Hoje as pessoas continuam a sonhar”, comparou. “Daqueles duzentos homens que iam nas naus, a maior parte não era rica. Eram «pobres diabos», como todos nós, que não sabiam o que fazer a sua vida nem como iam viver o dia de amanhã. Foram à Índia pelas mesmas razões que, actualmente, temos multidões a vir de África para um sonho: Europa”, comparou.

E são várias as questões que a “Força Humana” lança. As respostas devem ser dadas pelo público. “E se tivessem sobrevivido dois daqueles homens? Que já não são aqueles, mas sim nós, que somos sobreviventes – cromossomicamente e culturalmente – daqueles que foram. Se fossem dois actores rabugentos e chatos? E se, ainda por cima de tudo isso, fossem dois refugiados no Mediterrâneo a ir para a Europa? A letra da obra é passível desta comparação? Completamente”, explicou António Fonseca.


Ainda assim, António Fonseca não quer que a “Força Humana” transmita nenhuma mensagem. “O mundo irrita-me em muitas coisas, entristece-me numas e alegra-me noutras. No teatro, só me interessa trabalhar nas coisas que me irritam, me alegram, me comovem e, depois, dizer: não comove a vocês também? Só faço teatro para fazer rir, fazer chorar ou inquietar. Não me interessa mais nada no teatro. Não há mensagem nenhuma”, garantiu.


“Força Humana” é o último espectáculo do mês de celebração dos onze anos do Centro Cultural Vila Flor.

Mafalda Oliveira
Mafalda Oliveira

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