Rui Prata reage a comunicado da Câmara e nega acusações

Depois da Câmara Municipal ter reagido às declarações de Rui Prata acerca do estado de conservação do espólio, agora é a vez do ex-director do espaço querer esclarecer alguns dados apontados pelo município.
Rui Prata sublinha que sentiu necessidade de “repor a verdade dos factos contra os diversos “erros de perceção”” expressos no comunicado municipal.
O ex-funcionário da autarquia lembra que a contratação de um novo técnico para o Museu da Imagem ultrapassou “largamente os prazos necessários para concursos públicos” e destacou o “marasmo que se instalou” no espaço cultural bracarense após a sua saída. Rui Prata dá conta de que “a qualidade das exposições, com algumas poucas exceções, decaiu e conferências e oficinas inexistiram”.
O ex-técnico, actualmente a viver na Finlândia, relata ainda uma reunião que teve com Lídia Dias (vereadora da Cultura na Câmara Municipal de Braga) onde foi expressa “a degradação das condições físicas do edifício”. “No entanto, mais de três anos volvidos, as condições físicas continuam a degradar-se, não sendo os pontuais “remendos” que solucionam a situação”, acrescentou Rui Prata que confirma que finalizou o seu vínculo voluntário de colaboração com o município após as declarações do presidente de Câmara, em Julho de 2015, que denunciaram “danos irreparáveis nos acervos” durante o período em que Rui Prata estava em funções. Declarações essas entendidas como “uma atitude de ingratidão” do actual presidente do executivo.
Rui Prata dá conta do número de exposições efectuadas, lembrando que algumas delas se limitaram a trabalhar a partir de uma base criada até ao ano de 2015.
A fechar, Rui Prata aponta: “Desde que abandonei funções, a missão do museu está longe de prosseguir o bom ritmo de outros tempos”.
Pormenor das consequências das infiltrações nas paredes do rés-do-chão do Museu da Imagem (Imagem cedida por Rui Prata)
Eis o comunicado na íntegra:
Embora não tenha por hábito alimentar polémicas, não podia ficar indiferente ao comunicado emitido pela autarquia de Braga, no que se refere à minha pessoa. Até porque, “quem cala consente” e quem não se sente não é filho de boa gente”. Convém também esclarecer que desde que me aposentei encontro-me a viver na Finlândia, país onde o rigor e a verdade são estandarte. Acompanho, pois, à distância e irregularmente o desenrolar da vida bracarense. Do comunicado da Câmara importa repor a verdade dos factos contra os diversos “erros de perceção” aí expressos. Inicio este esclarecimento pelo final da nota que evoca dois aspetos distintos: a oportunidade das declarações e o dinamismo das ações desenvolvidas. No que respeita à oportunidade surge por mera casualidade já que fui contactado pela RUM – Rádio Universitária do Minho – face à estranheza do Museu da Imagem se encontrar há mais de dois anos sem responsável direto. Este quadro denota, desde logo, uma profunda incúria da tutela sobre os desígnios do Museu, ultrapassando largamente os prazos necessários para concursos públicos. Relativamente ao dinamismo e contrariando as afirmações da nota autárquica, é uma evidência o marasmo que se instalou após a minha saída. A qualidade das exposições, com algumas poucas exceções, decaiu e conferências e oficinas inexistiram. As visitas guiadas diminuíram substancialmente e a afluência de público baixou, ao contrário do que se afirma. Continuemos, então, pelo início do comunicado. É um facto que a figura de diretor do Museu da Imagem não existe no organigrama da autarquia. Porém, as chefias sempre tiveram em mim, a pessoa que dirigia (daí a designação de diretor), com aprovação da tutela, a programação e ações a desenvolver pelo Museu da Imagem. Mas este é um facto de somenos importância e irrelevante na atualidade. Dou seguimento a este texto salientando duas situações que me parecem relevantes. Após as eleições autárquicas de 29 de Setembro de 2013, solicitei à nova vereadora da Cultura, Dra. Lídia Dias, uma reunião para dar conhecimento da degradação das condições físicas do edifício e da carência de recursos humanos no que toca a técnicos para tratamento, conservação e inventariação dos espólios, já que os dois técnicos anteriormente existentes se haviam aposentado. Tal reunião ocorreu em meados de Novembro de 2013. No entanto, mais de três anos volvidos, as condições físicas continuam a degradar-se, não sendo os pontuais “remendos” que solucionam a situação. A carência de técnicos não é resolvida com estágios indiferenciados e desde a retirada dos referidos técnicos que o tratamento e inventariação dos acervos está paralisada. A segunda situação, centra-se no meu respeito e voluntarismo para com a autarquia. Sabendo que não havia um substituto no imediato, disponibilizei-me graciosamente a dar continuidade à programação do museu, estabelecendo os contactos e procedimentos necessários para que tal acontecesse. Essa colaboração cessou após ter conhecimento de afirmações do Dr. Ricardo Rio, proferidas numa inauguração ocorrida no final de Julho de 2015 e publicada no Jornal Correio do Minho, onde se insinuava que tinha havido danos irreparáveis nos acervos. Tomei essas insinuações como uma atitude de ingratidão e decidi cessar a minha colaboração. Tais insinuações voltam a repetir-se na nota autárquica, e antes que a mentira se torne verdade importa publicamente esclarecer. É um facto que nos invernos chuvosos de 2012, 2013 e também de 2014 (desconheço a situação de 2015 e 2016) houve infiltrações de águas pluviais que ocorreram nas salas de exposições, mas que não afetaram, sublinhese, a sala de arquivo e consequentemente os acervos. Porém, a partir de Maio de 2015 a máquina que controla a temperatura e humidade na sala de arquivo, avariou, não tendo sido reparada. Este facto, sim, coloca em perigo os espécimenes aí depositados, já que encontram sujeitos às variações de temperatura e humidade. Assim, não corresponde em absoluto à realidade que hoje os acervos no Museu da Imagem se encontrem nas melhores condições. Também não constitui solução transferir os acervos para as novas instalações do Arquivo Municipal. Tal intenção só pode ser emanada de quem desconhece que as condições ambientais para conservação de mapas, gravuras, livros e outros documentos, que constituem o arquivo municipal, são distintas para a conservação de material fotográfico. No ponto 3 da nota e relativamente às exposições que estiveram patentes no Museu da Imagem após a minha saída foram 7 em 2015; 7 em 2016; e uma no ano corrente. Portanto 15 e não 16. Uma correção insignificante mas que serve para afirmar que a média anterior era de 8 exposições por ano, não havendo qualquer alteração quantitativa de relevo. Refira-se também que as cinco exposições com recurso aos arquivos constituem uma repetição de exposições mais consistentes anteriormente apresentadas. A título de exemplo, “Anjinhos da Procissão” é um capítulo (A procissão no estúdio do fotógrafo, com texto de Catarina Miranda Basso) da grande exposição realizada em finais de 2001 “Um Mundo de Sonhos”. No que toca a parcerias elas foram várias ao longo dos anos. Para apenas mencionar algumas, começo exatamente com o Arquivo Municipal de Lisboa, para elucidar o desconhecimento do atual executivo. Assim, em 2002, realizou-se a exposição da obra de Henrique Manuel, com produção conjunta do museu e do Arquivo de Lisboa. A parceria repetiu-se no final desse ano com uma exposição proveniente da coleção do Arquivo Municipal: “Pescadores Macua” de Jorge Henriques e Silva. Também nesse ano, e associando-se ao Braga Jazz, estabeleceu-se uma parceria com a reputada agência MAGNUM, que possibilitou a vinda da exposição JAZZ de A a ZZ, do conceituado fotógrafo Guy Le Querec. Muitas outras foram estabelecidas quer com parceiros institucionais (Goethe Istitut, Instituto Francês, Embaixada da Áustria …) e privados onde destacaria o Bragaparque. As parcerias privadas, permitiram, aliás, a edição de excelentes catálogos, donde destacaria “Braga d’Outros Tempos”. Esse catálogo, que rapidamente se esgotou e infelizmente não foi reeditado, contou com textos de contextualização histórica do atual vereador Doutor Miguel Bandeira. Houve, igualmente, parcerias com diversas instituições de ensino, entre as quais as Faculdade de Filosofia, donde recebemos e acompanhámos vários estagiários; com a Escola Secundária Carlos Amarante, colaborando na constituição do seu núcleo museológico. Enfim, muitas outras parcerias e colaborações foram desenvolvidas e que seria fastidioso elencar aqui.
Assim, no presente e desde que abandonei funções, a missão do museu está longe de prosseguir o bom ritmo de outros tempos. A terminar, refiro que sempre me pautei pela separação de águas entre o que era do museu era autarquia e o que era Encontros da Imagem, associação.
Rui Prata 2 de Março de 2017.
