No comboio do Close UP –Observatório de Cinema de Famalicão

É preciso recuar no tempo para se falar de cinema. O Close UP – Observatório de Cinema começa a viagem no Museu Ferroviário de Lousado, em Vila Nova de Famalicão, para falar da arte do passado, do presente e do futuro. Na carruagem Cine, com Álvaro Santos, director da Casa das Artes de Famalicão e Vítor Ribeiro, mentor do projecto, a viagem começa bem lá atrás, no apeadeiro dos Irmãos Lumiére que impulsionaram o conceito de cinema. No presente, pelo menos em Portugal, o Close UP continua a explorar a arte, nas suas variadas formas de expressão. É isso que vai fazer de 14 a 21 de Outubro, com 40 sessões sobre cinema que vão para lá da tela.
Na abertura, os Sensible Soccers assumem o papel de actores secundários no documentário “O Homem da Câmara de Filmar”, de Dziga Vertov. A dupla vila-condense vai dar música durante os 65 minutos da película do realizador futurista de origem polaca. As músicas dos Dead Combo vão acompanhar o imaginário de Reinaldo Ferreira. Três curtas-metragens de uma Rússia soviética que o realizador nunca viu. As entrevistas fictícias com Mata-Hari e Conan Doyle permitiram traçar um retrato fantasioso do país, com os Dead Combo a ajudar no transporte até à realidade de Reinaldo.
Primeiro Cannes, depois Famalicão. Foi com a ficção argentina, “As Acacias” que, em 2011, Pablo Giorgelli venceu o Prémio Camera d’Or para Melhor Jovem Realizador no Festival de Cannes. A história de Rúben, um motorista solitário que percorre as estradas do Paraguai e da Argentina, vai estar no ar a 20 de Outubro na Casa das Artes. Depois da ante-estreia, “talvez uma estreia comercial em Portugal”, refere Vítor Ribeiro.
No percurso da história do cinema, a rebeldia feminina que contribuiu para a construção e produção simbólica de referenciais fílmicos, vai ser expressada por jovens realizadoras. “Fantasia Lusitana” é o mote para o cinema no feminino, totalmente realizado por lusitanas. Não existem manifestos feministas nem machistas, mas olhares distintos e singulares. Até porque Tânia Dinis vem para mostrar uma curta-metragem sobre um homem: o avô Armindo. “Armindo e a Câmara Escura” é muito mais do que uma curta-metragem sobre um famalicense que sonhava ser fotógrafo. É uma história de admiração, um projecto de arquivo de família que esteve em constante desenvolvimento. Ainda em fase de conclusão, “Armindo” vai para o ar, pela primeira vez, na sua cidade, Famalicão.
Na segunda edição de uma iniciativa “que é muito mais que um festival”, Álvaro Santos e Vítor Ribeiro pensaram um Close UP para “diferentes públicos”. A 2ª edição não é para nichos, mas sim para a população em geral, com “propostas para os vários ciclos de formação”. São oitos dias de cinema, de conversas sobre cinema e de workshops também eles sobre cinema. Quando revelada a ficha técnica, todos continuam sentados. Entre realizadores, jornalistas e investigadores são mais de 35 os convidados que vão para analisar as longas e curtas-metragens que serão exibidas. Uma espécie de literacia mediática da relação cinema-espectador, que permite ao público “desenvolver conhecimentos” sobre a arte.
O trilho do Observatório faz-se de sinergias com a Casa ao Lado e o Pedro Carvalho. Pelo caminho que o Close UP começou em 2016, tentam-se parcerias ao nível internacional que ajudem no crescimento do projecto. O propósito não é internacionalizar o festival, mas perspectiva-se um futuro com mais público, onde a oferta possa ser mais diversificada.
