Igualdade de género debatida nos TUB

Os Transportes Urbanos de Braga (TUB) contam actualmente com nove motoristas mulheres num universo de 233.
Os números foram recordados neste Dia Internacional da Mulher, à conta da iniciativa “pequeno almoço com… sobre “igualdade de género”. Um dia que “continua a fazer sentido assinalar”, na opinião do Delegado Regional da Zona Norte da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
Manuel Albano, Delegado Regional da Zona Norte da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género foi um dos convidados da sessão. Além do enquadramento geral e dos números divulgados esta quinta-feira sobre as desigualdades que persistem nas empresas do sector público e privado, o especialista assinalou alguns dos métodos de contratação por parte deste sector. Sem se referir ao caso dos Transportes Urbanos de Braga, que, segundo a administração e as motoristas, não se verificam diferenças salariais entre homens e mulheres, Manuel Albano deu o exemplo de uma empresa da zona do Porto, onde o número de mulheres motoristas é mais acentuado, mas pelo facto de a empresa oferecer salários mais baixos ao sexo feminino. Na opinião do delegado regional, são menos as mulheres motoristas “ou porque não se candidatam para esta profissão, ou quando se candidatam há, não de uma forma directa mas indirecta, alguma preferência” face à diferença salarial.
Em Braga, a empresa municipal de transportes contratou as primeiras mulheres motoristas há aproximadamente quatro anos. Hoje, Cristina Costa foi a porta-voz de nove mulheres motoristas. Há quatro anos a conduzir viaturas dos Transportes Urbanos de Braga diariamente, Cristina reconheceu que no início “os passageiros estranharam, mas em pouco tempo conseguiram perceber que as mulheres motoristas tinham a capacidade, a simpatia, a segurança e até um pouco mais de cuidado, sobretudo com os idosos”.
As desigualdades em números
16,7% é a percentagem de desigualdade salarial entre homens e mulheres, segundo os dados europeus divulgados neste Dia Internacional da Mulher. Manuel Albano referiu hoje que as mulheres começam a aparecer nas chefias intermédias, mas o mesmo não se verifica nos cargos superiores ou de chefia máxima. “Quando atingimos os patamares superiores elas não chegam lá. Não porque não tenham mérito, não chegam lá porque são mulheres e porque, ainda hoje, quer na administração pública (apesar de ser proibido por lei), quer no sector privado, ainda se pergunta a uma mulher se ela pretende constituir família e ter filhos. Se ela disser que sim, numa situação que até pode ser muito mais qualificada para o exercício da profissão e tiver um homem, ela vai ser preterida relativamente ao homem”, exemplificou. Aí, outro dos procedimentos “normais” passa por nem questionar o homem sobre “se pretende constituir família”. Em Portugal, apenas 27,5% dos homens gozam a licença de parentalidade.
Para o Delegado Regional da Zona Norte da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, “a mudança nunca está nos outros, está em nós próprios”. “A mudança significa que temos de nos questionar sobre os padrões que socialmente nos foram sendo impostos e que nós vamos aceitando porque é mais fácil. É mais fácil eu não questionar do que questionar, é mais fácil eu continuar a dar a boneca à menina e o carrinho ao menino. É mais fácil eu encaminhar a filha para o balé e o filho para o futebol, mesmo que a vontade de um ou de outro não seja essa”, explicou. Em causa, muitas das vezes, o facto dos cidadãos não saberem lidar com a crítica social, sublinhou.
A Directora dos Recursos Humanos da Câmara Municipal de Braga, Graça Ribeiro foi outra das convidadas da sessão de hoje. Na mensagem aos trabalhadores da empresa municipal presentes no pequeno almoço, lembrou que “os grandes percursos começam por pequenos passos”. “Temos a tendência de acharmos que somos só um indivíduo numa sociedade tão vasta e que não conseguimos mudar nada. É uma falácia. Conseguimos mudar muita coisa, a nossa esfera de influência atinge a nossa família, o nosso vizinho, os nosso colegas de trabalho. Temos uma responsabilidade muito grande”, rematou.
Presente na sessão desta manhã, o vice-presidente da Câmara Municipal de Braga, Firmino Marques realçou a importância dos passos que têm sido dados, no caso, de muitos cargos dirigentes na função pública já serem desempenhados por mulheres.
Áudio:
Declarações de Manuel Albano; Graça Ribeiro (CMB) e Cristina Costa (Motorista TUB)
