“Terra de Sonhos”. Uma exposição que funde alegria e sofrimento

“Terra de Sonhos” é uma exposição que funde alegria e sofrimento. Um paradoxo que caracteriza a vida de inúmeras mulheres, numa das zonas mais pobres e inóspitas da Índia, em Anantapur, no Estado de Andhra Pradesh. A exposição, que conta com 40 fotografias da autoria de Cristina García Rodero foi inaugurada esta terça-feira, no Largo do Toural onde vai ficar patente até ao dia 27 de Agosto. A entrada é livre. Existem visitas aos sábados às 18h00 e domingos às 12h00.

O espólio faz parte do programa “Arte na rua”, uma organização da Fundação “La Caixa”, em colaboração com o BPI, a Fundação Vicente Ferrer e a Câmara Municipal de Guimarães que inseriu a exposição na programação das festas Gualterianas.

Para o presidente honorário do BPI e curador da Fundação “La Caixa”, esta é uma exposição “notável” de um dos “maiores vultos da fotografia”. Artur Santos Silva fala de uma forma diferente de entrar em contacto com a cultura. Já o autarca vimaranense, Domingos Bragança, destacou o factor humano e de proximidade entre as duas culturas, a “força feminina”.

Qual o mundo feminino que Cristina García Rodero encontrou na Índia. 

Na apresentação pública da exposição na cidade berço, Cristina García Rodero frisou que esta é uma exposição que pretende “dar voz às mulheres”. Numa pequena introdução à cultura, a fotógrafa explicou que o país continua a viver regido por um sistema de castas, ou seja, uma espécie de hierarquia que divide a sociedade. Na Índia a mulher acaba por ser sinónimo de despesa, uma vez que no casamento os pais têm de pagar o “dote” ao marido. “Muitas mulheres são abandonadas. Outras tentam abortar”, afirma Cristina Rodero que informa o público sobre a problemática dos abortos selectivos no país.

“Terra de Sonhos” acaba por ser um retrato de uma comunidade, Anantapur, em 2015. Em declarações à Universitária, a autora sublinha que em todas as fotografias pretende demonstrar que é fulcral “continuar a lutar pelos direitos das mulheres, por uma sociedade mais justa e igualitária, principalmente, no que toca a oportunidades”. 

Cristina Rodero dá nota de “problemas muito graves” nesta região onde falta um pouco de tudo, desde água a cuidados médicos. Durante um mês e meio visitou hospitais, centros de acolhimento de mulheres vítimas de violência, escolas e casas. Foi tirando fotografias que dão voz a pessoas muitas vezes esquecidas: crianças, mulheres e deficientes.

Quando questionada sobre o momento mais marcante desta experiência no oriente, Cristina recorda de imediato vários exemplos que espelham um mundo complexo e fragmentado. “Vivi com muita intensidade todos os momentos mas lembro-me por exemplo de uma mulher com sida. Não podem imaginar o que foi ver essa mulher sem vontade de viver. Mas também uma menina albina que ficou órfã muito cedo. Estava na fundação como interna e usava ao pescoço um colar de pérolas, um presente dos avós que sabiam que ela ali estava melhor”, garante a autora que resume a sua estadia em três palavras “ternura, felicidade e/ou drama”.

Violência doméstica. Um problema silenciado do ocidente ao oriente.

“Houve um caso que me impressionou muito”, começa por dizer a fotógrafa internacionalmente galardoada. Na Índia existem vários casos de tentativa de suicídio. Uma realidade camuflada, tal como acontece em países como Portugal e Espanha. Cristina Rodero relata o caso de uma mulher que o marido era alcoólico e batia-lhe. 

A fotógrafa quis ouvir a sua história e utilizou a sua imagem como capa de um livro. “Ninguém fala deste tema em Espanha. Acho que é medo de um possível efeito dominó” afirma. Essa mulher tentou suicidar-se, mas acabou por abandonar a filha e fugiu com os pais”.

Vanessa Batista
Vanessa Batista

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