Alienação da Confiança aprovada em reunião de executivo

A alienação da antiga Fábrica Confiança foi aprovada ao final da manhã desta quarta-feira em reunião de executivo municipal. Os quatro votos contra da oposição e os votos favoráveis de cinco dos vereadores da coligação fizeram aprovar a proposta de Ricardo Rio que está decidido a vender a antiga saboaria e a não adiar por nem mais um dia este processo.
À reunião desta manhã não faltaram cidadãos descontentes com este desfecho que prometem fazer tudo para impedir a alienação do imóvel.
“Uma expropriação não é para depois de fazer um negócio imobiliário” – Miguel Corais, vereador do PS
Os vereadores da oposição, por sua vez, não pouparam nas críticas ao autarca bracarense. O socialista Miguel Corais disse mesmo que caíram por terra todos os argumentos levantados aquando da compra da Confiança e que agora só através da sociedade civil a decisão poderá ser revertida. “A compra da Confiança, até hoje, foi um grande elogio à democracia e à cidadania. Uma expropriação não é para depois de fazer um negócio imobiliário”, defendeu o candidato derrotado nas autárquicas de 2017 em Braga.
PS ao lado da sociedade civil para reverter decisão aprovada hoje
Depois de PS e CDU terem solicitado a Ricardo Rio a retirada do ponto da ordem de trabalhos para, num período de meio ano, se envolver a sociedade civil, associações e movimentos cívicos em debates que promovam uma finalidade específica para a antiga fábrica, e de o mesmo pedido ter sido rejeitado, os vereadores socialistas consideram que a sociedade civil terá um papel crucial na possibilidade de reversão deste processo. “A única forma de reverter esta posição”, disse, recordando o argumento utilizado por Ricardo Rio. “O argumento foi claro, «nós temos a maioria, o compromisso de 2012 não conta e o compromisso de 2017 é que conta», lembrou o socialista a propósito das declarações de Ricardo Rio na reunião de câmara desta manhã.
“A maioria deixou cair por terra todas as ideias em favor de um privado, que já sabe qual é” – Carlos Almeida, vereador da CDU
O vereador da CDU, Carlos Almeida, afirma que se trata de um recuo ao ano de 2003, apontando que Ricardo Rio não decidiu, ao acaso, apresentar esta proposta de um dia para o outro. “Não cumpre aquele que era um desígnio de toda a cidade, de instalação de valências culturais, sociais, o facto de se poder criar uma aproximação com a universidade tantas vezes aludida pela coligação como uma necessidade e um imperativo e que agora deixa cair por terra todas estas ideias em favor de um privado, que eu não sei qual é, mas estou plenamente convencido de que esta maioria já sabe qual é, apesar da hasta pública”, atirou Carlos Almeida.
Ricardo Rio acusa ‘protagonistas da sociedade civil’ de durante três anos não terem debatido o assunto ou apresentado soluções
Por seu turno Ricardo Rio avisou que a alienação foi por diversas vezes invocada e que tem toda a legitimidade para tomar agora esta decisão. “A coligação Juntos por Braga ganhou mais cinco mil votos. Estamos totalmente legitimados para a opção de hoje”, realçou o autarca.
Rio disse ainda que quem agora quer debater nunca se manifestou publicamente sobre esta decisão nos últimos três anos. “Os protagonistas desse pretenso debate foram os mesmo que de há três anos a esta parte, desde que esta possibilidade se colocou, nunca quiseram fazer esse debate. Não precisavam da câmara para o fazer, podiam ter desenvolvido outras soluções, feito os contactos necessários, ter equacionado alternativas e ter apresentado à câmara municipal esses mesmos projectos e soluções. Nunca o fizeram. Acho muito estranho que só no momento em que a câmara vai concretizar o que pré anunciou durante quase três anos é que finalmente é importante promover um debate, e recolher as soluções. Isso é bloquear o que é a concretização da generação e neste caso concreto o grande objectivo é promover a regeneração daquela zona”.
Na reunião desta manhã faltaram dois dos vereadores da coligação Juntos por Braga, Lídia Dias e João Rodrigues. A alienação vai para a frente com os votos favoráveis dos cinco vereadores da coligação presentes e quatro votos contra do PS e da CDU.
Miguel Bandeira afirma que sempre se demarcou da aquisição da Confiança
No momento da votação eram já certos os votos favoráveis de Firmino Marques, vice-presidente e ex-autarca de S. Victor, e Miguel Bandeira, vereador do Urbanismo e respeitado activista, que hoje acabou por ouvir várias críticas de cidadãos presentes na reunião. Miguel Bandeira lembrou, no decorrer da discussão, que sempre se demarcou da aquisição da Confiança, apontando, ainda assim, que o caderno de encargos que agora elaborou para esta alienação assegura a memória e preservação daquele edifício enquanto bem da história industrial do concelho de Braga. “A fábrica chegou a um estado de ruína praticamente”, disse depois em declarações a alguns jornalistas. “Este conjunto de medidas vai salvaguardar o património da fábrica com um centro de interpretação, que era um dos denominadores comuns a todo o debate realizado, a recuperação da chaminé, a volumetria do edifício e a manutenção da afectação do PDM como área de equipamento”. Além disso, “será objecto de escavações arqueológicas por proximidade à via romana que ali passava”, disse.
Membros do Conselho Estratégico acusam executivo de “desconsideração”
Alguns membros do Conselho estratégico estiveram na reunião para lamentar que o assunto nao tenha ido ao conselho estratégico considerando a atitude “uma desconsideração do executivo”.
Luís Tarroso Gomes “envergonhado com a forma como se despacha a Confiança”
Já Luís Tarroso Gomes, voz conhecida da cidade de Braga, interviu no final da reunião, lamentando a decisão tomada pelo executivo. “Tenho vergonha desta reunião, de ver a forma como se despacha a Confiança para fazer 4 ou 5 milhões de euros. É uma falta de coerência do executivo. Mudar de opinião não é um problema. O problema é o que se está a fazer à cidade” dizia. O autor da petição pública que agora está a circular em conjunto com a Junta de Freguesia de S. Victor disse ainda que o caderno de encargos elaborado por Miguel Bandeira “é um acto de desgraça”, além de referir que não consegue entender a decisão tomada quando Braga quer ser Cidade Europeia da Cultura em 2027. Tarroso Gomes manifestou ainda ao dispôr “para ajudar a encontrar outras soluções que não a alienação” ou para “impedir”.
Entretanto PS e CDU decidiram avançar no imediato com proposta de classificação da Confiança como bem cultural municipal que deverá ser submetida à próxima reunião de câmara dentro de duas semanas.
Áudio:
Declarações proferidas no final e no decorrer da reunião de câmara desta manhã
