Aos 16 anos, Gabriela vai pilotar na Rampa da Falperra

Jovem, sem carta de condução e uma mulher num mundo dominado por homens. Precisamente no dia em que completa 16 anos, Gabriela Correia vai fazer a estreia na Rampa da Falperra, ao correr na categoria T3. É com a camisola da equipa JC Group Racing, composta por quatro elementos e seis viaturas, que a piloto entrará para a história do automobilismo nacional como um dos mais jovens de sempre a participar no Campeonato de Portugal de Montanha. “É muita ansiedade e medo de errar. Estou na minha cidade e vão estar presentes muitas pessoas que conheço”, revela.

A curta carreira começou ao volante de karts, mas agora o pé direito vai ser colocado no acelerador de um SEAT León TCR. A “responsabilidade é muita”, uma vez que a JC Group Racing procura revalidar o título de campeão nacional de montanha em 2/GT. O troféu desta categoria pertence ao pai, José Ferreira Correia, na altura conquistado ao volante de um Nissan Nismo GT-R GT3.

Não quer ultrapassar ninguém fora da pista. Está disposta a assumir os erros quando as coisas não correrem bem. Para a Falperra, Gabriela Correia inspira-se num piloto que nunca viu correr. Livros e filmes sobre Ayrton Senna fazem do brasileiro uma referência para uma jovem que tem os estudos como principal ocupação. “Mais do que um grande piloto ele era uma grande pessoa. Eu quero muito ser assim: boa condutora e, acima de tudo, uma óptima pessoa”.

Não foram as películas sobre Senna que ensinaram Gabriela a fazer as curvas na perfeição, ou a perceber as características de um carro. Muito menos na escola de condução, tendo em conta que ainda faltam cerca de dois anos para poder efectuar inscrição. Começou no karting com o apoio do tio José, mas a dedicação do pai ao automobilismo fez com que crescesse a ouvir o ruído de motores. “Sempre acompanhei as provas em que o meu pai corria. Comecei nos karts aos 11 anos, mas no final do ano passado surgiu a oportunidade de experimentar um carro”.

Gabriela Correira vai subir a Falperra “completamente sozinha”

Vai percorrer a Falperra completamente sozinha. O pai, o mestre Bastos e o tio José vão ficar a ver. Quando entra num carro não tem medo de encarar a estrada. Em jeito de brincadeira, a mãe de Gabriela costuma dizer que tem mais medo quando é o pai a pegar no automóvel. “Segundo a minha mãe, ela tem mais receio quando o meu pai pega num carro. Eu tenho noção até onde posso ir. Já o meu pai quer sempre mais”.

Depois de intensas semanas de treino está apta para conduzir. Mesmo não tendo carta de condução. Mas como é que alguém pode competir em provas não tendo licença para conduzir? O regulamento permite que os pilotos prodígio entrem em provas quando completados 16 anos. Além disso, no curriculo devem constar provas oficiais de karting.

O artigo 20º. do Regulamento de Emissão de Licenças desportivas, emitido pela Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), refere que “no caso do candidato ter sido praticante assíduo de Karting, nos dois anos que antecedem o pedido de licença, tendo durante os mesmos obtido resultados significativos, poderá a FPAK conceder-lhe uma Licença Desportiva de Condutor exclusivamente para circuitos de velocidade, para maiores de 16 anos. Para as Provas de Montanha, o candidato deve ter um ano de experiência em Circuitos.

Para trás, ficam mais de seis anos de experiência em karts. Começa agora a olhar para o futuro apenas com os carros no horizonte. A jovem piloto quer, ao longo de 2018, apostar em conhecer melhor as provas e a manobrar na perfeição a caixa de velocidades, pois “o kart com que competia não tinha mudanças”. Evoluir, “passo a passo”, até porque a “transição das pistas de circuito para a montanha é muito grande”. 

Carro que a piloto vai usar na Falperra

Gabriela começou nos karts em 2013


Irmã de 11 anos também quer ser piloto


Beatriz Correia vê na irmã Gabriela um exemplo a seguir. Aos 11 anos, quer começar a dar as primeiras voltas num kart. É o elemento mais jovem da equipa, filha mais nova de José Correia, que está agora focada em treinar para poder disputar algumas provas oficiais de karting. “Quero fazer alguns treinos e, se gostar, poderei experimentar as corridas do karting. Um dia quero ser piloto de montanha, como o meu pai”, revela Beatriz.

 

Para colocar as filhas em pé de igualdade, José Correia deu oportunidade às duas de assumirem os comandos de um karting. No início, Beatriz “não ligou muito”, mas agora também já tem espírito de competição. Rivalizar não é para já. Ainda está a atravessar a fase de adaptação. Só depois desse passo é que vai começar a ver o seu nome inscrito em competições.

Primeira edição da Rampa da Falperra foi há 68 anos

A Rampa da Falperra nasceu em 1950. A prova voltou a Braga em 1951 e depois só em 1960. Foi preciso esperar 16 anos por uma nova edição, época em que o Clube Automóvel do Minho (CAM) passou a organizar a prova. Desde 1976 que a rampa assumiu o mesmo trajeto, mas só em 1978 passou a gozar de um estatuto internacional.

António Rodrigues, Manuel Fernandes, Pêquêpê, Mário Silva, ou Artur Mendes ajudaram a elevar a prova do CAM. Em 1984, a Falperra tem, pela única vez, duas edições no mesmo ano, a segunda das quais para candidatar a prova ao Campeonato Europeu de Montanha. Até a Ferrari incluiu o traçado da Falperra no roteiro que sugere aos seus clientes italianos, a par de outras estradas emblemáticas da Europa.

Em 2017, Simone Faggioli bateu o recorde de melhor subida na Rampa da Falperra

É uma das mais emblemáticas subidas do panorama nacional e internacional. Uma prova cuja história remonta a 1927, com a Rampa de Braga a ser o primeiro ensaio para aquilo que viria a ser a Rampa da Falperra.

Para a 39ª edição são 139 os inscritos. Nomes como Simone Faggioli -detentor do recorde com 1:48.686-, Christian Merli (Osella FA 30), Reto Meisel (Mercedes SLK 340 Judd), Fausto Borlomini (Reynard K02), Vladimir Vitver (Audi TTR-DTM), Javier Villa (BRC BR 53), Philippe Schmitter (Renault R.S. 01), Jan Milon (McLaren 650S ) são, segundo o Clube Automóvel do Minho, alguns dos destaques. Os irmãos Ramalho (Osella PA20 S e PA 2000 Evo2), Adruzilo Lopes e Gonçalo Manahu (Porsche 997 GT3) e José Correia (Nissan GT-R GT3) são algumas das referências nacionais presentes na Falperra.

Paulo Costa
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