Arquidiocese diz que doação de terrenos não é possível

Num comunicado enviado às redacções locais, a Arquidiocese de Braga veio a público esclarecer os contornos da negociação dos terrenos onde foi construído o bairro do Picoto. A Igreja explica aquilo que foi referido pelo actual presidente da CMB, Ricardo Rio, na última reunião e esclarece que não pode fazer a doação dos referidos terrenos e que a autarquia terá de desembolsar 200 mil euros.
A Arquidiocese esclarece que “também tem obra social e encargos” e que “não pode desbaratar o que, com tanto sacrifício, alguns fiéis resolveram doar-lhe, a fim de cumprir a sua missão apostólica e caritativa”.
Esta semana, a RUM já tinha solicitado os referidos esclarececimentos à Arquidiocese.
Eis o comunicado na integra:
«Tem sido notícia, nos últimos dias, o Monte do Picoto e, mais concretamente, o “Bairro Social do Picoto”, ou “Bairro dos Ciganos”, implementado este em terrenos reconhecidamente pertencentes à Arquidiocese de Braga.
A Câmara Municipal de Braga – quer através do seu anterior responsável máximo, quer através do actual (e honra seja feita a ambos) – tem validado essa pertença, apontando-a até como razão para a impossibilidade de a Câmara Municipal de Braga intervir ou candidatar a qualquer projecto (n)aquela área e complexo habitacional.
Só que a história não termina aí: para compensar a Arquidiocese do dano sofrido com a usurpação aquando da construção do referido “Bairro dos Ciganos”, concordou a Câmara Municipal de Braga, qual permuta, ceder à Arquidiocese de Braga o chamado “Campo de Futebol”, criado na altura da construção do Bairro Nogueira da Silva. Tinha esse terreno a extensão de 8.060m2.
Ambos os terrenos – o do “Bairro Social do Picoto” e o “Campo de Futebol” – foram sujeitos a avaliação por uma Comissão de Peritos, os quais assim se pronunciaram: valor do primeiro – 472.690€; valor do segundo – 438.660€.
Ainda que prejudicada, mas tendo em conta a desejada paz, a Arquidiocese predispôs-se à troca. Mas esta, por culpas que à Arquidiocese não podem ser imputadas, nunca chegou a concretizar-se, apesar de variadíssimas tentativas.
Pior ainda: o Campo de Futebol deu lugar a uma rotunda e alargamento de estradas. Sem que a Arquidiocese sobre o assunto fosse informada. Sem qualquer consentimento desta. Isto veio inviabilizar a possível permuta.
Como é sabido e para pôr fim a todas as questiúnculas, sensível à sorte de quem habita no mencionado Bairro, a Arquidiocese aceitou uma compensação de 200.000€. Com assinalável prejuízo. Com enorme boa vontade.
A doação (como alguns sugerem) não é possível. A Arquidiocese tem encargos. Também tem obra social. E não pode desbaratar o que, com tanto sacrifício, alguns fiéis resolveram doar-lhe, a fim de cumprir a sua missão apostólica e caritativa.
A generosidade por alguns propalada face aos desfavorecidos certamente acrescerá à solução do problema: será suficiente que disponibilizem para o efeito, não o que é dos outros (não custa fazer o bem ou a caridade com o que é de outrem), mas com o que lhes pertence. Certamente que os pobres agradecerão!»
Vigário Geral e Coordenador da Cúria,
Cónego José Paulo Leite de Abreu
