BE leva à AR propostas para travar crise têxtil do Ave

“Situação dramática”. É desta forma que a distrital de Braga do Bloco de Esquerda caracteriza a crise no sector têxtil do Vale do Ave.

Na região há concelhos muito dependentes do sector têxtil, que, em alguns casos, chega a atingir mais de 50% do tecido empresarial.

Na zona há empresas têxteis subcontratadas e dependentes de multinacionais.

As empresas maioritariamente ligadas ao gigante mundial Inditex estão a deslocar encomendas para locais onde a mão de obra é mais barata, sobretudo para o Norte de África. Só o grupo Inditex aumentou, “em 2018, os lucro em 2%, para 3 milhões e 444 mil euros, e as vendas subiram 3%, para 26 milhões e 145 mil euros”. 

Uma descentralização que tem impacto directo, económico e social, na zona do Vale do Ave.

A quantidade de pequenas empresas que estão a fechar portas, sobretudo nos concelhos de Fafe, Guimarães, Vizela e Povoa de Lanhoso preocupam os bloquistas, que consideram que a situação tem que ser resolvida no imediato. Em Vizela, por exemplo, a Polopiquê “desviou para o exterior 80% das suas encomendas de vestuário têxtil”. 

Em Vila Nova de Famalicão, a Nocir, do grupo Sonix, despediu cerca de 150 trabalhadores, sobretudo mulheres. 

No 1.º trimestre de 2019, de acordo com dados da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas, “grande parte das empresas subcontratadas no Vale do Ave estiveram sem trabalho”. 

Esta segunda-feira, na sede da distrital de Braga do Bloco, o deputado Pedro Soares alertou para “a estratégia destas empresas, que não têm em conta a realidade da economia desta região.

“Algumas delas obtiveram financiamentos do Portugal 2020, que nos contractos não tem qualquer exigência ao nível da manutenção de encomendas, de postos de trabalho, da modernização das empresas e do sector. Essas empresas obtém os fundos e, por uma questão de estratégia de redução de custos, abandonam a região”, explicou.

Ora, desta forma o Vale do Ave passa a funcionar “em regime sazonal de trabalho, passando a ser apenas uma região de produção têxtil quando há excesso de encomendas no norte de África, e a pressão para a diminuição dos valores de mão-de-obra e dos custos de produção. Mesmo sendo difícil diminuir para níveis inferiores ao do salário mínimo, há outras formas de diminuir os custos de trabalho, com a precarização, aumento dos ritmos de trabalho ou diminuição das condições de trabalho”.

BE defende aposta na formação, linhas de regularização de dívidas e linhas de crédito 


O Bloco considera que a situação deve ser resolvida a dois níveis, com estratégias a ser implementadas com “urgências” e outras a “médio/ longo prazo”.

No imediato, os bloquistas avançam com 3 propostas: “Formação profissional, linhas de regularização de dívidas e linhas de crédito”.

“É preciso encontrar uma estratégia para que as microempresas, durante os períodos em que estão paradas, não tenham que fechar e despedir trabalhadores. Ao nível de programas que as permitam continuar a funcionar. Por exemplo, utilizar estes períodos de paragem para a formação profissional, sobretudo ao nível das costureiras. Podiam haver linhas financiadas pelo IEFP, com óbvias vantagens para a modernização da mão-de- obra”, detalhou Pedro Soares.

Quanto às linhas de regularização de dívidas alargadas, o deputado relembra que a instabilidade no sector provocou o endividamento de alguns empresários e, como tal, seria “preciso encontrar planos de regularização de dívidas alargadas, que permitisse às empresas fazer esses pagamentos e não terem que encerrar por incapacidade de pagamentos dessas dívidas”. Além disso, o Bloco defende a criação de “linhas de crédito específicas para as empresas que tiveram períodos de paragem, que estão descapitalizadas, e com dificuldade em aceitar novas encomendas, porque não têm financiamento para adquirir as matérias primas”.

Mas esta não é uma situação que se resolva apenas no imediato. Para evitar novas crises no sector, Pedro Soares chamou a atenção para a necessidade de uma “intervenção sobretudo pelo ministério da Economia, sindicatos, entidades empresariais e autarquias, no sentido de se desenvolver um plano de valorização e modernização ao nível da qualificação da mão-de-obra e da organização da produção, que permita uma alteração do perfil e que esta situação de recorrente de crises deixem de existir na região”.

Pedro Soares alerta ainda que estas crises têm ainda consequências ao nível social. “O fundo de desemprego poderá enfrentar algumas situações, mas a precariedade cria situações de grande dificuldade social e de carência que é preciso que o Instituto de Segurança Social esteja atento, analise as medidas que são necessárias”, acrescentou.

A situação, frisam os bloquistas, já se alarga ao Vale do Cávado, e faz-se sentir em Barcelos e em Vila Verde, principalmente no sector das malhas.

O Bloco de Esquerda considera a crise no sector têxtil “dramática”, uma vez que tem levado ao encerramento de várias empresas na região e, consequentemente, ao aumento do desemprego. Por isso, vai apresentar medidas no Parlamento para a modernização do sector, sobretudo ao nível da qualificação e apoia a criação de linhas de regularização de dívidas e linhas de crédito. 

Áudio:

Pedro Soares, deputado do BE, detalha as ideias que o partido vai levar à Assembleia para travar crise no sector têxtil

Liliana Oliveira
Liliana Oliveira

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