Inclusão “não depende apenas de decretos-lei, mas do exemplo de cada um”

“Quando perdemos o direito a ser diferentes, perdemos o privilégio de sermos livres”. Esta é uma das frases que por estes dias se lê numa das paredes da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva (BLCS). Alerta para a necessidade de inclusão das pessoas com necessidades específicas e é parte integrante de uma exposição que inaugurou esta segunda-feira, dia em que arranca também a 4.ª edição da Semana da Inclusão, promovida pela BLCS em parceria com 17 entidades.

No arranque da iniciativa, a Biblioteca assinou com quatro associações bracarenses um protocolo de cooperação, com o objectivo de “aprofundar a ligação”. AIA – Associação Inclusão e Apoio ao Autismo, ACARE – Associação Comunitária de Apoio à Reabilitação dos Deficientes de Braga, APCB – Associação de Paralisia cerebral de Braga e ADOC – Associação de Ocupação Constante poderão, a partir de agora, “desenvolver actividades educativas, formativas, artístico-culturais” com a biblioteca, que pretende “chamar mais este tipo de público”. “São pessoas que dificilmente viriram até nós se não tivessemos estes protocolos e também nos faz estar mais atentos àquilo que são as actividades que a biblioteca deve desenvolver, o equipamento que deve comprar, o mobiliário que deve possuir”, justificou a directora da BLCS, Aida Alves, que considera que todos “ficam a ganhar”.

A 4.ª edição da Semana da Inclusão arranca esta segunda-feira e prolonga-se até ao dia 3 de Dezembro. Serão levadas a cabo 33 actividades, em parceria com 17 entidades. Entre workshops, oficinas, debates, visitas guiadas, exposições ou showcooking vão ser desenvolvidas “diferentes actividades que cada uma das instiuições leva a cabo e que vão oferecer aos parceiros e comunidade”.

Foram já inauguradas 6 exposições, que contam com braile e audioguia.

“É um programa diversificado, onde se desenvolve mais a arte, o desporto, a parte formativa e educativa e as componentes musicais e de dança”, acrescentou Aida Alves.

“Há uma assistente portadora de uma deficiência numa escola que diz que é gozada pelos alunos”

No arranque da semana da incluão, Lídia Dias, vereadora da Cultura e Educação, destacou a importância do trabalho em rede para uma sociedade mais inclusiva. “Todos juntos fazemos o mundo girar. Esta semana estamos a trabalhar um dos temas mais significativos da nossa comunidade e permite colcoar esses temas em agenda, apontar caminhos e estreitar laços”, afirmou.

A inclusão, diz Lídia Dias, “não depende apenas de decretos-lei, mas do exemplo de cada um de nós”. “Há, numa escola de 1.º ciclo, uma assistente que é portadora de uma deficiência que não quer estar naquela escola, porque diz que é gozada pelos alunos. Isto é uma questão de inclusão. Aquela escola tem que trabalhar com aquelas crianças para compreenderem as especifidades daquela pessoa e da sua necessidade de estar ali também”, sublinhou Lídia Dias.

BLCS é um espaço onde todos têm lugar

De portas abertas a toda a comunidade, a BLCS pretende ser um espaço que corresponda às necessidades de todos. Para a directora, Aida Alves, é importante que “esse tipo de público (com alguma deficiência) venha à biblioteca, porque, se não fossem estes protocolos, provavelmente as instituições não se lembrariam disso e olhariam para a biblioteca como um espaço de livros e não como espaço de pessoas e socialização”.

Nesse sentido, têm sido adaptadas salas e equipamentos. Por exemplo, “para as necessidades ligadas à visão a BLCS teve a rever o seu site para tornar tudo mais acessível, desenvolvem-se actividades em espaços mais ou menos ajustados, bem como se tenta sempre ajustar o equipamento”. “Investimos, sobretudo, em equipamento para pessoas cegas, desenvolvemos suporte de documentação em braile e fizemos o audioguia. Temos um roteiro aos serviços da biblioteca para quem é surdo e temos um guia em língua gestual também colocado no site. Não nos sentimos sós”, detalhou a directora da biblioteca.