Bracarense a viver em Oxford fala num Reino Unido “muito dividido”

Tiago Corais, bracarense a viver em Oxford, no Reino Unido, admite que os britânicos estão muito divididos neste acto eleitoral e considera que há um novo eleitorado para quem o Brexit acaba por ser o motivo do voto.
O Partido Conservador, do primeiro-ministro, Boris Johnson, vai tentar recuperar uma maioria absoluta, perdida devido a expulsões e deserções de deputados insatisfeitos com o rumo do ‘Brexit’ e também devido ao desentendimento com o aliado Partido Democrata Unionista (DUP) da Irlanda do Norte.
No lado oposto, o Partido Trabalhista lidera a oposição na tentativa de travar o acordo negociado por Johnson com Bruxelas para completar o processo de saída da UE até 31 de janeiro, prometendo renegociar os termos e submeter o resultado a referendo.
“Há pessoas fartas de eleições”
“São umas eleições diferentes, com expectativas diversas”, começa por referir o bracarense a viver no Reino Unido há vários anos.
Numa análise ao eleitorado, Tiago Corais afirma que há pessoas “fartas de eleições”, já que é o terceiro acto eleitoral para o Parlamento desde 2015. Há também outro grupo grande do eleitorado que está mais concentrado naquilo que são os posicionamentos das pessoas sobre o Brexit. “Ou são a favor ou são contra e, na minha opinião, é isto que cria uma grande dificuldade para ver o resultado de hoje”, comenta.
Outras das características de eleições no Reino Unido, na análise de Tiago Corais, é que “muitos eleitores votam apenas porque são claramente contra o partido que não gostam”, o que vale para conservadores e trabalhistas.
Em declarações à RUM, o engenheiro com responsabilidades políticas em Oxford não tem qualquer dúvida de que a luta será entre Boris e Corbyn, mas antecipa um cenário mais provável: vençam conservadores ou trabalhistas, “será difícil uma maioria absoluta”.
O sistema político do Reino Unido visa as maiorias absolutas, ainda que desta vez a probabilidade seja baixa, o que leva Tiago Corais a defender uma grande reflexão sobre o sistema. “Muita gente vê o seu voto desperdiçado e por isso não vota”, conclui.
Outras preocupações dos britânicos para lá do Brexit são o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido e a Habitação até porque o número de sem-abrigo “é nesta altura muito elevado”, alerta.
As mesas de voto abriram às 7h00 e fecham às 22h00 para o voto presencial, mas também é possível votar por correspondência, cujos boletins já foram enviados há várias semanas.
Os eleitores que não se possam deslocar, seja por ausência justificada ou por razões de saúde, podem solicitar um voto por procuração.
A votos vão os 650 assentos na Câmara dos Comuns, a câmara baixa do Parlamento britânico, aos quais concorrem 3.322 candidatos, dos quais 1.124 mulheres, tendo os partidos Conservador (635), Trabalhista (631), Liberal Democrata (611), Verde (498) e Partido do Brexit (275) concorrido no maior número de circunscrições a nível nacional.
Algumas das principais promessas dos diferentes partidos:
PARTIDO CONSERVADOR
– Retomar o processo legislativo do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia negociado por Boris Johnson antes do Natal e concretizar a saída da UE a 31 de janeiro.
– Investir 20 milhões de libras (24 mil milhões de euros) no serviço nacional de saúde e contratar mais 50 enfermeiros.
– Contratar mais 20.000 polícias para Inglaterra e País de Gales.
– Congelamento dos valores do IVA, imposto sobre o rendimento e contribuições sociais. – Introduzir sistema de imigração por pontos para regular entrada de trabalhadores.
PARTIDO TRABALHISTA
– Renegociar o acordo de saída da UE e submetê-lo a referendo com uma opção para o Reino Unido permanecer na UE no espaço de seis meses.
– Investir 400 mil milhões de libras (475 mil milhões de euros) num “Fundo de Transformação” do país, com especial incidência nos transportes, ambiente, habitação, educação e saúde.
– Nacionalização de empresas ferroviárias, de distribuição de energia, água, correios e telecomunicações.
– Abolição das propinas universitárias.
– Internet de banda larga gratuita para domicílios e empresas até 2030.
PARTIDO LIBERAL DEMOCRATA
– Revogar o processo do ‘Brexit’ e aplicar os 50 mil milhões de libras (60 mil milhões de euros) resultantes de um potencial crescimento económico nos serviços públicos, incluindo contratar 20.000 professores.
– Investir 100 mil milhões de libras (119 mil milhões de euros) até 2025 para combater alterações climáticas e tornar 80% da energia renovável até 2030.
– Infantários gratuitos para crianças entre dois e quatro anos.
PARTIDO NACIONALISTA ESCOCÊS
– Organizar referendo à independência em 2020 e manter Escócia na UE.
– Promover segundo referendo ao ‘Brexit’ e fazer campanha pela opção para permanecer. – Acabar com armamento nuclear britânico.
PARTIDO VERDE
– Investir 100 mil milhões de libras (119 mil milhões de euros) por ano para combater alterações climáticas, reduzindo e neutralizando as emissões de dióxido de carbono no país até 2030.
– Promover segundo referendo ao ‘Brexit’ e fazer campanha pela opção para permanecer.
PLAID CYMRU (PARTIDO NACIONALISTA GALÊS)
– “Revolução de empregos verdes” com investimento de 20 mil milhões de libras (24 mil milhões de libras).
– Promover segundo referendo ao ‘Brexit’ e fazer campanha pela opção para permanecer.
PARTIDO DO BREXIT
– Sair da UE sem acordo, nos termos da Organização Mundial do Comércio, e negociar acordo de comércio livre.
– Acabar com a Câmara dos Lordes, reformar o sistema de voto para introduzir representação parlamentar proporcional e constituição escrita.
– Corte na imigração para menos de 50.000 pessoas por ano.
