Carlos Sá. “70% do sucesso do atleta está na força mental”

Carlos Sá, nascido em Barcelos, é um dos melhores ultramaratonistas do Mundo. Entre muitas outras vitórias, em 2013 venceu a mais dura Ultra Maratona do Mundo, a Badwater, que começa a 86m abaixo do nível do mar e termina no Mouth Whitney, o ponto mais alto dos EUA. Em 2013, foi também Campeão de Ultra Trail de Portugal.
Com a RUM, no Dia Mundial da Rádio, esteve à conversa sobre as horas que corre ininterruptamente, a filosofia que leva dos trails para a vida e tenta transmitir a velhos e novos.
Aos 12 anos começou a praticar a corrida e, depois de uma curta interrupção, nunca mais conseguiu largar “a disciplina da aventura”. “Corri vários cenários, dos mais distintos que existem. Tenho-me aventurado um bocado por todo o mundo e tenho conseguido resultados fantásticos”, admitiu.
“Sou mais um aventureiro do que um corredor”. É assim que Carlos Sá se define. “O que me move são os desafios e cenários que gosto de descobrir”. Para Carlos Sá, há várias formas de o fazer. “A ultramaratona pode ser corrida em ambiente de montanha ou estrada, com distâncias superior à maratona: 42.195 metros. Já o trail, o seu preferido, é feito em montanha, explicou.
Por todo o mundo, Carlos Sá já descobriu vários cenários e, garante, “todos foram fascinantes”. Ainda assim, a cada viagem que faz, ,mais valoriza Portugal. “Também oferece muito para nos deslumbrarmos. Somos um país pequeno, mas que tem cenários muito distintos. Às vezes valorizamos muito o que temos lá fora quando temos cá dentro cenários igualmente deslumbrantes”, elogiou.
Para o “aventureiro”, é impossível responder à pergunta: “qual foi a maratona mais difícil da sua vida?”. “Todas são muito difíceis”. Mas se tivesse que escolher o que é mais difícil, admite que gosta mais de correr em ambientes com calor. “O risco é muito maior em correr uma travessia da Gronelândia do que correr no deserto no Sahara, como já fiz 7 vezes”, compara. Na verdade, alguns trilhos são feitos non stop (sem parar). “A última prova que fiz, por exemplo, nos Alpes, com 340 quilómetros, tinha cerca de 30 mil metros de desnível positivo e negativo e demorei 80 horas”, revelou.
Mas o que pensa durante as corridas? Não há treino possível para correr 80 quilómetros, por exemplo, garante Carlos Sá. “Em percentagem, diria que, em 70%, a capacidade mental é que define o sucesso dos atletas. Temos que estar bem fisicamente, mas o nosso corpo acaba por quebrar. É a nossa capacidade resiliência que nos leva até ao fim”, garantiu.
Actualmente, Carlos Sá tem como missão incentivar à prática desportiva. Quando começou a correr, a valorização do desporto não tinha o mesmo peso que tem actualmente, garante. “Felizmente, hoje em dia, a cultura desportiva tem um significado enorme. Ainda assim, somos muito poucos, com 10% da população a fazer desporto com regularidade e este valor tem que aumentar”, frisou.
Para o atleta, “a melhor forma de se fazer desporto é correr”. “Podemos fazê-lo em qualquer momento a qualquer hora”. “Fazê-lo em natureza é espetacular”, daí o aumento da popularidade do trail, considera. “Conhecemos locais que doutra forma não seria possível”, explica.
Carlos Sá faz também palestras empresariais, onde tenta transmitir a sua filosofia e forma de estar. “O nosso foco tem que ser o mesmo em qualquer actividade. Numa palestra na área da saúde, no final, em conversa, um profissional de saúde estava a fazer-me uma comparação entre trabalhos. É incrível como são exactamente iguais. Estou, por exemplo, 24 horas a correr. Eles, por vezes, estão 12 horas numa operação em que quase se não podem mexer. Tem que haver um treino prévio para isso e é isso que muita gente não percebe”, explicou.
Áudio:
Quanto mais Carlos Sá viaja, mais gosta de Portugal:
