“Cheguei às 8 horas e estavam mais de 200 pessoas”

O relógio apontava para as 11 horas. À porta do Registo Civil de Vila Nova de Famalicão contavam-se dezenas de pessoas. O cenário tem sido assim dia após dia. As filas são intermináveis, há quem espere horas para ser atendido e a maioria até desiste. Em causa está a greve nos registos e notariado, que na semana passado deixou o Registo de Famalicão apenas com os serviços mínimos.
Esta manhã, a RUM acompanhou de perto o desespero dos famalicenses que andam há dias para conseguir resolver os seus problemas.
“Cheguei às 8 horas e estavam mais de 200 pessoas”
Carla e Sónia Teixeira são emigrantes em Inglaterra e já por diversas vezes estiveram à porta do registo famalicense para levantar o passaporte. À RUM, Carla descreveu o cenário caótico que encontrou esta segunda-feira. “Cheguei às 8 horas e estavam mais de 200 pessoas e 15 minutos depois das 9 horas já não distribuiam mais senhas”, comentou. Desistiu e voltou esta terça-feira, um bocado mais tarde e com um cenário mais favorável.
Na sexta-feira, relembra, “estavam em greve e havia um papel a dizer serviços mínimos”. “Eu vim levantar o passaporte do meu filho que pedi com urgência e não era considerado um serviço mínimo. Paguei 95 euros e desligaram-me o telefone na cara”, relatou.
Com viagem agendada para amanhã, Carla não podia desistir de levantar o documento esta terça-feira. “Acho que as pessoas têm o direito de se manifestar, mas também acho que foi uma má altura”, comentou. Apontando a “má organização” no que diz respeito “ao sistema de distribuiçao de senhas”, Carla não entendo como é que em meia hora foi apenas atendida uma pessoa.
Sónia Teixeira não tem alternativa e também terá que esperar para levantar os documentos. “Cada um tem direito a reclamar o que acham que está mal, mas acho que deviam pensar nas pessoas que, como nós, viajam e não podem fazer nada”, apontou.
“Tinha três pessoas à frente e demoraram duas horas”
Cristiane Silva já havia tentado adiquirir a certidão de casamento. Desistiu na primeira tentativa e voltou esta terça-feira. Às 11 horas tinha “cinco pessoas à frente”, da última vez “tinha três pessoas e demoraram duas horas”, contou.
Cristiane aponta “a falta de funcionários devido às férias” como uma agravante. Segundo a própria, foi-lhe dito pelo Registo que “faltavam quatro pessoas” no serviço, por estarem de férias.
Chegou às 6h30 e já estavam 48 pessoas à porta
Abílio Mendes esteve no Registo de Famalicão todos os dias da semana passada, mas não conseguiu tirar o cartão de cidadão. Hoje, chegou às 6h30. Apesar de madrugar já lá estavam 48 pessoas à porta. Ficou com a senha 49, o que significa que só por volta das 15 horas seria atendido. Às 11 horas, tinham sido atendidas apenas 17 pessoas.
“A culpa é do nosso Governo. Não devia haver tantos dias de greve, alguém os devia chamar a atenção. Tinham um papel que falava dos dias 26 a 28 de Agosto e 1 a 5 de Setembro, agora foi retirado”.
O papel foi retirado, mas a greve poderá ainda acontecer.
Recorde-se que o Sindicato dos Trabalhadores dos Registos e Notariado (STRN) desconvocou na sexta-feira um segundo período de greve, marcado para os dias 19 a 24 deste mês, mas este sábado divulgou um comunicado onde ameaça fazer nova greve e até adotar outras medidas de protesto caso as suas pretensões de aumento de salários, progressão nas carreiras e a reforma dos serviços não sejam atendidas.
Ainda assim, Abílio considera que “se não fosse a greve a situação normalizava”.
“Em Braga é igual”
As alternativas parecem ser poucas. Em Braga e Guimarães, a situação parece ser idêntica.
Abílio foi um dos que tentou a Loja do Cidadão em Braga, mas esta segunda-feira parece que “era pior do que em Famalicão e Guimaraes é igual”.
Palmira Andrade estava à porta “há cerca de duas horas”. A história repete-se: “Já tentei noutros dias, mas havia greve. Está no 17 e eu sou o 49, mas hoje não desisto. Nos outros dias, esperei três ou quatro horas”.
Palmira mudou de residência e tem apenas 15 dias para actualizar a morada e evitar coimas.
“Em Braga é igual”, aponta a famalicenses, apelando para colocarem “mais gente a trabalhar”.
