Como ter pele negra afecta a vida de um jovem em Braga?

Há 18 anos o destino era precisamente Portugal. Edivino Miranda e a família chegavam da Guiné-Bissau à procura de uma vida mais segura. Hoje, com 25 anos, está a tirar um mestrado em Relações Internacionais na Universidade do Minho. Reside em Braga, cidade que o acolheu de braços abertos e que descreve como “cidade da paz”. Numa entrevista à Universitária, o jovem partilha alguns episódios em que o facto de ter pele negra fez toda a diferença.

O aeroporto foi o primeiro “choque de realidade”. Apesar de criança, Edivino percebeu em Lisboa que chegava a um país de grandes dimensões (em comparação com a Guiné-Bissau). Depois de uma temporada na capital decidiram rumar ao norte do país, mais concretamente para a cidade dos arcebispos onde, pela primeira vez, foi alvo de comentários discriminatórios. “Quando és crianças e ouves “preto vai para a tua terra!” claro que te revolta e tem efeitos a nível psicológico. Hoje em dia já sei lidar com os estereótipos”, explica.

Edivino afirma que desde 2004 são notórias grandes mudanças na mentalidade da sociedade bracarense. Quando chegou a Braga não existiam grandes comunidades africanas, apenas alguns cabo-verdianos. “Neste momento a cultura africana está mais espalhada, toda a gente tem acesso e gosta das nossas músicas e danças”. Para o estudante o facto das artes africanas estarem na moda é um importante veículo de inclusão social para que, deste modo, mais portugueses “mergulhem na nossa cultura”.

Segundo o jovem, os bracarenses sempre foram “muito acolhedores”. Característica extensível aos professores e funcionários da UMinho que merecem, na sua opinião, uma avaliação “cinco estrelas”.

Já no trabalho, Edivino não tem dúvidas que devido à sua cor de pele, muitos clientes colocam a sua “qualidade profissional em causa”. Aos microfones da RUM, o jovem dá um exemplo que não é único. “Um cliente entra, estamos dois colegas a trabalhar e depois de olhar para mim, dirige-se à minha colega”.

Também na escola Edivino sentiu o peso dos estereótipos. No secundário teve um professor que disse que “nunca iria acabar o secundário, e hoje, estou prestes a terminar a minha tese de mestrado”. Para o jovem cada um é responsável pelo seu caminho. “Não é a cor que determina onde vamos chegar, temos de trabalhar para chegar lá”, afirma.

Sempre com um sorriso no rosto, muro que foi construindo de forma a não encarar todos os problemas de uma forma demasiado séria, o estudante frisa que é preciso saber quando não se deve “extrapolar”.

Quanto aos apoios por parte da Câmara Municipal de Braga, Edivino classifica o trabalho como “excelente”, uma vez que sempre se sentiu “bem acolhido”. O estudante dá o exemplo de outras minorias, como a etnia cigana, em que reconhece “um grande trabalho da autarquia”.

Edivino partilha uma mensagem para todas as minorias, “não devem ter tanto receio de dar um passo em frente e abrir-se à sociedade. Não vamos perder essência, vamos ganhar respeito e integração”.

Áudio:

Reportagem com as declarações de Edivino Miranda sobre a sua experiência em Portugal, mais concretamente na cidade dos arcebispos.

Vanessa Batista
Vanessa Batista

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