“Comunidade portuguesa quer ficar em Moçambique”

Rui Lobão Afonso está em Maputo e descreveu à RUM a situação vivida em Moçambique após a passagem do ciclone Idai. O emigrante, residente no país africano há 5 anos, relata que a situação actual “já está muito melhor”. Para isso, diz Rui Afonso, contribui “a chegada de diversa ajuda nacional e internacional”. “As estradas e o aeroporto já foram reabertos, por mar também já se chega, e neste momento estamos a enterrar os mortos, que acredito que cheguem aos milhares, e a tentar ajudar os vivos”.
O emigrante mora em Maputo, que fica a mais de 1000 quilómetros da Beira. A distância, garante Rui Afonso, não é impedimento para a ajuda. “Aqui, a onda de solidariedade fez-se sentir de forma muito positiva. Ainda anteontem ajudámos a encher um navio, que partiu para a Beira, com cerca de 140 toneladas de mantimentos e 4500 voluntários, além das ajudas de 60 mil pessoas, entre empresas e particulares”, destaca.
Portugueses querem ficar
7 portugueses habitantes da Beira regressaram esta madrugada a Portugal. Rui Afonso diz que os emigrantes só voltaram porque perderam tudo e sublinha que os cerca de 250 mil portugueses residentes em Moçambique querem permanecer no país.
“7 portugueses em 250 mil é um número irrisório e os que foram só o fizeram porque ficaram sem nada, viram as casas destruídas. De resto, não conheço nem vejo ninguém que tenha vontade de regressar a Portugal”, relata, assinalando que a comunidade portuguesa, quer a da Beira quer a que está espalhada pelo resto do país, “tem sido de uma generosidade extrema, o que revela o sentimento de povos irmãos”. “Aqueles que estão na Beira e que pouco têm, estão a partilhar”, sublinha.
Doenças podem ser piores do que o próprio ciclone
Nos últimos dias começaram a chegar notícias do aparecimento de doenças como a cólera ou a malária, que já começa a afectar várias pessoas. Rui Afonso é da opinião que o surgimento das doenças pode prejudicar o país mais do que o próprio ciclone.
“A grande preocupação agora são as doenças que aí vêm. Esse problema pode causar tantos ou mais mortos do que o ciclone em si. As ajudas multiplicam-se, as pessoas pararam de trabalhar para apoiaram a população afectada. Só os militares no terreno não seriam suficientes para resolver isto”, assegura.
Beira vai demorar entre 20 a 30 anos a recuperar
Quanto à cidade da Beira, Rui Afonso vaticina que a recuperação vai demorar “entre 20 a 30 anos” do ciclone. “A cidade está numa zona pantanosa, foi destruída abaixo do nível do mar. Nos últimos anos, teve um crescimento de assentamentos ilegais, de milhares de pessoas em casas modestas, as chamadas palhotas. Já se se sabia que quando por ali passasse uma catástrofe maior a devestação seria enorme. Prevê-se que demore entre 20 a 30 anos a pôr uma Beira como era ou como já foi em tempos”, estima.
Áudio:
Rui Lobão Afonso diz que a comunidade portuguesa quer permanecer em Moçambique
