Crise Académica 1969. Recordar mas só entre geração Coimbra

A Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva acolheu esta terça-feira à noite a iniciativa “A voz a historiadores, sociólogos e jornalistas”. Foi mais uma iniciativa inserida no programa que pretende assinalar a celebração dos 50 anos da Crise Académica de Coimbra de 1969, na cidade dos arcebispos, sendo que na época eram várias os bracarenses que frequentavam esta academia.
Para além das memórias de violência ou de alegria de fazer parte de um movimento antifascista, recordaram-se as reuniões das Assembleias Magnas, “as maiores que um movimento estudantil organizou em todo o país”, como foi o caso do dia 28 de Maio, em que foi votada a greve aos exames que contou com a presença de 6 mil estudantes. Para Manuela Cruzeiro, antiga aluna, estes são “momentos inesquecíveis” que demonstravam que estavam a lutar por algo “correcto”, uma verdadeira “força invencível”.
Manuela Cruzeiro afirma que teve a sorte de assistir a uma experiência que “fez crescer e marcou para a vida toda” uma geração. A presidente do Centro de Documentação 25 de Abril frisou que os estudantes foram os responsáveis por instaurar “uma espécie de ilha da liberdade num Portugal fechado”.
Quanto ao papel das mulheres numa revolução estudantil no seio de um regime fascista, Manuela Cruzeiro recorda que este foi um ponto de viragem para o sexo feminino. “Nos movimentos anteriores o aparecimento da mulher era muito escasso. Eram uma minoria e não apareciam lado a lado com os homens na luta de igual para igual, mas com 1969 houve uma espécie de invasão da presença feminina”, recorda.
O que pensa um jornalista sobre a Crise Académica de Coimbra de 1969?
Samuel Silva, jornalista, moderou a iniciativa promovida pela Civitas Braga, Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, Fundação Bracara Augusta e Universidade do Minho. Para o jornalista existe, claramente, uma falta de informação sobre a temática no seio da cultura portuguesa e que a crescente curiosidade que tem surgido deve-se ao “aproximar da celebração dos 50 anos do acontecimento histórico”. O jornalista admite também que ainda não é um assunto “evidente e isso acontece porque os media não o fazem evidente” ao contrário do 25 de Abril de 1974.
O jornalista confessou estar interessado em “conhecer a perspectiva de quem trabalhou os temas quentes do momento”, em que surgiu também o caso da Guerra Colonial, uma vez que a sua geração “conhece muito pouco” sobre a Crise Académica de Coimbra.
“Geração mais jovem está formatada para os conteúdos dos manuais escolares”, Aida Alves.
A directora da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, que recebe várias iniciativas que marcam os 50 anos da Crise Académica de Coimbra afirma que este momento da história mais actual portuguesa, como não consta nos livros escolares, não é alvo de muita atenção por parte da faixa etária dos 20 aos 25 anos.
“O balanço que fazemos, numa primeira instância, é positivo nas presenças e visionamento das exposições. Porém, não é tão satisfatório no caso da participação dos jovens. Quem se sente mais motivado a participar nas actividades são agentes que na altura participaram activamente no protesto. Para chegarmos aos jovens temos de agir de uma forma mais personalizada”, admite.
Para já a Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva não tem marcações para visitas escolares à exposição “Os papéis da/na Crise de Coimbra de 1969”. A directora frisa que este é um período de pausa escolar. Mesmo assim a directora assegura que os jovens de hoje estão “formatados para os conteúdos dos manuais escolares”, e que por isso é necessário motivar os professores para este tipo de eventos.
Áudio:
Algumas memórias das conquistas alcançadas pela Crise Académica de Coimbra de 1969, assim como críticas à falta de divulgação da história considerada essencial para o conceito de Universidade nova em Portugal.
