Depois da morte anunciada, a indústria têxtil tem futuro?

“Chegaram a anunciar a morte do têxtil. Durante anos olharam para tudo menos para o sector. Foi preciso chegar um estudioso estrangeiro para dizer: ‘Olhem para aquilo que sois bons e esqueçam sectores onde outros países já estão mais avançados'”. O director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), Paulo Vaz lamenta o passado, envolto em dificuldades, de uma fileira que “sempre contribuiu para a dinamização da economia” portuguesa. Teve que “vir um tipo de fora para dizer que somos bons e só assim é que a indústria têxtil voltou às prioridades” do Governo.
Associar as palavras “têxtil” e “Portugal” é falar de uma indústria que se tem adaptado às tecnologias, ainda que tenha sido o modo tradicional -agulha e linha- a fazer do sector nacional uma referência. É fazer referência a um país que alberga 5900 empresas do sector, que empregam 134 mil trabalhadores. 87% do volume de negócios do têxtil está localizado a Norte de Portugal, com destaque para as sub-regiões do Ave (39%) e do Cávado (19%). A confecção de vestuário exterior, excepto vestuário em couro e vestuário de trabalho é a que gera maior volume de negócios (38%). Na lista de países mais produtores, Portugal surge nada atrás de Itália e Alemanha, principais players do sector.
No “Projecto para a Regeneração da Indústria Têxtil”, apresentado na passada semana, estiveram em cima da mesa temas como a evolução da indústria têxtil em Portugal, desafios e a sua ligação com a inovação. O debate esteve centrado nos jovens e nas novas empresas que podem ajudar a potenciar o sector.
A indústria têxtil portuguesa é, cada vez mais, conhecida pelos serviços extra que presta aos clientes. Destaca-se hoje pela qualidade da confecção, rigor nos prazos de entrega e pelo design, sobretudo, no calçado. Apesar do custo de mão-de-obra inferior nos países asiáticos, segundo Paulo Vaz, existem diversas marcas de renome internacional que continuam a preferir Portugal para elaborar uma peça de vestuário desde do design até ao último remate.
Quais os desafios que a indústria têxtil tem pela frente?
Os ventos têm sido benéficos para a indústria portuguesa, aponta Paulo Vaz: “A indústria têxtil exporta mais de cinco mil milhões de euros anualmente, para mais de 180 países, responsável por cerca de 10% de todas as vendas de Portugal ao exterior e por um saldo líquido na Balança de Transacções de mais de mil milhões de euros. Eu diria que estes e outros dados apontam para um futuro sustentável do sector”.
Para assegurar um futuro para a indústria, o presente tem que ser dedicado à regeneração da fileira têxtil. Apesar da recuperação que as empresas conseguiram fazer é necessário reestruturar. Como? “Novas empresas, novos talentos, novos investimentos”, explica Paulo Vaz.
O objectivo interno das empresas passa por atrair talento. Na indústria em geral há uma grande dificuldade em encontrar mão-de-obra qualificada e por qualificar. Essa era já uma lacuna evidenciada por diferentes indústrias, um pouco por todo o distrito de Braga. A transferência de conhecimento assume-se como outro ponto fundamental.
A Plataforma Internacional Fibrenamics da Universidade do Minho, entidade estabelecida para a transferência de conhecimento científico-tecnológico, que potencia a valorização do conhecimento de ponta no campo dos materiais e da nanotecnologia aplicados em sectores como os têxteis inovadores tem sido um contributo na potencialização de novos e melhorados produtos e serviços.
