Teatro Didascália apresenta “Fronteira” antes de se retirar das salas

O Teatro da Didascália estreia esta quinta-feira o espectáculo “Fronteira”, na Casa das Artes de Famalicão. A peça propõe uma reflexão sobre o conceito fronteiriço, nos aspectos social, político e artístico. O título que dá nome à obra é também um vislumbre sobre aquilo que será o futuro imediato da companhia de teatro nascida e sediada em Joane.
“Este espectáculo trabalha as fronteiras entre as várias linguagens com que trabalhamos – o movimento, o teatro, a dança e o circo -, e vai marcar uma viragem: nos próximos dois anos vamos sair das salas de teatro e trabalhar algo completamente diferente“, revela à RUM Bruno Martins, director-artístico da companhia e encenador de “Fronteira”.
O responsável adianta que nos próximos dois anos a Didascália “vai focar-se no espaço público, no exterior em contacto com o território, em particular com Joane, e vai dedicar o seu trabalho artístico à sustentabilidade ambiental“. “Os teatros, nos próximos dois anos, serão espaços onde pontualmente habitar com criações que estão no nosso repertório mas não serão o palco das estreias dos novos trabalhos”, antecipa.
“Fronteira” subverte papel do público
“Fronteira”, nova criação do Teatro da Didascália, é uma reflexão sobre a Europa, a participação, a cidadania e a informação. O espectáculo encena um reality show, com duas personagens, e onde o público é dividido em dois: cada metade vê apenas um dos protagonistas e, no fim, é obrigado a votar em quem sai do cenário do reality show.
A proposta da peça pretende trabalhar sobre a ideia do outro. “O facto de o público, divividos em dois, poder ver apenas uma parte do espectáculo faz que com não veja os dois lados da fronteira, da casa dividida a meio. Tendencialmente votamos naquilo que vemos e é nessa ideia de não conseguirmos ver o outro que a peça joga”, explica o encenador.
O conceito do espectáculo começou a ser idealizado o ano passado, numa residência artística na Gafanha da Nazaré, onde o público era confrontado com a ideia de exclusão. “Nessa residência os espectadores eram conduzidos por um caminho bastante absurdo, eram obrigados a sair do teatro e a voltar a entrar. A ideia de fronteira criou impacto, sobretudo naquele que era excluído, que ficava de fora do teatro“.
O leitmotiv do espéctaculo também encontra ponto de contacto com a actualidade política e social, pelas questões do Brexit, do muro entre os Estados Unidos e o México ou até pela Faixa de Gaza. “O espectáculo foi influenciado pelas notícias, por uma geografia que, mesmo em pleno século XXI, está em constante mutação, não por razões naturais mas por racismo e xenofobia. Questões que deveriam estar ultrapassadas mas que ainda estão bem presentes”.
“Fronteira” estreia esta quinta-feira na Casa das Artes de Famalicão, onde fica até sábado e os bilhetes podem ser adquiridos aqui. O espectáculo é depois apresentado em Coimbra, no dia 16, em Montemor-o-Novo, no dia 27, e em Ílhavo (Gafanha da Nazaré), nos dias 5 e 6 de Dezembro.
