Feirantes com mais um “Inverno perdido” em Braga

A Feira Semanal de Braga está praticamente deserta sempre que chove. A deslocalização da Feira do exterior do FORUM Braga para o sopé do Monte Picoto nunca agradou, mas o adiamento das obras para depois da AGRO surpreendeu os vendedores que muitas vezes já nem aparecem à 3ª feira para “não perder mais dinheiro”.
Na última terça-feira, a chuva voltou a afastar feirantes e clientes. Ao meio dia, a estrada nacional e o Sopé do Monte Picoto estavam desertos. As únicas pessoas que se encontravam eram mesmo os agentes da Polícia de Segurança Pública, naquele dia abrigados junto a um prédio, e que todas as semanas cortam a estrada para a realização da feira em segurança.
“Com o tempo nestas condições muitos feirantes já decidem não sair de casa porque acabam por ter ainda mais despesa. Isto preocupa-nos. O não comparecer é um dia perdido e quem trabalha nesta actividade não tem mais nada. O município de Braga deve ter mais sensibilidade para uma área que ultimamente tem desprezado”, começa por relatar à RUM o porta-voz da Associação de Feirantes do Porto, Douro e Minho.
“Quem está na estrada está um bocadinho melhor, mas o sopé do Monte Picoto precisa de ser intervencionado. Na rua, preocupa-nos a nacional, as condições não são as mesmas. É sempre uma rua, há sempre condicionamentos e é uma rua acentuada e quando chove vem a água por ali abaixo. Há uma série de condicionantes”, lamenta Joaquim Santos realçando que quem está no sopé do Monte Picoto está ainda pior. Para minimizar os problemas com lama em dias de chuva e pó no Verão, o município de Braga procedeu no ano passado à colocação de brita no terreno, mas a solução é “insuficiente”, avisam os feirantes que não têm sequer casas-de-banho.
“É mais um Inverno perdido para os feirantes”
Joaquim Santos diz que é “mais um Inverno perdido” em que o município de Braga continua sem respeitar esta tradição. “Que se respeite quem está a operar. Já temos a concorrência do dia-a-dia de espaços com outro conforto. Que o feirante não saia ainda mais prejudicado”, apela o porta-voz.
O presidente da associação acusa o poder político de “falhar sistematicamente com as suas obrigações e falhar à palavra”, referindo-se à câmara municipal e à InvestBraga. Recordando que quem exerce esta actividade são famílias com micro-empresas, Joaquim Santos pede “mais respeito às câmaras municipais que deviam proteger mais aquilo que é também cultura e tradição”.
Feirantes sabiam de um atraso, mas desconheciam nova decisão que empurra requalificação do espaço para depois da AGRO
Segundo o representante dos feirantes, o município de Braga comunicou que a obra de requalificação estaria atrasada por causa de uma providência cautelar de um dos concorrentes, mas desconhecia a decisão mais recente em que o município optou por não avançar com qualquer obra antes da realização da AGRO. “Fomos chamados para darem conhecimento da obra e do impasse por causa dessa acção”, disse.
A novidade neste processo – o adiamento para depois da AGRO – não agradou ao presidente da associação que assegura estar ao lado dos feirantes para qualquer acção pública que pretendam desenvolver contra o município de Braga. “Vamos ponderar. Sem dúvida que se os feirantes mostrarem o seu descontentamento, a associação está do lado deles. Acho que neste momento o município de Braga não está a ser um fiel parceiro de quem quer operar em Braga e continuar a fazer a sua feira em Braga. Não estamos para criar qualquer guerra ou braço de ferro com a câmara, mas queremos e exigimos que tenham respeito por esta actividade e por quem ali opera há muitos anos”, vincou Joaquim Santos.
Os feirantes nunca concordaram com a decisão da InvestBraga, uma vez que não correspondia à promessa que lhes tinha sido feita antes das obras de requalificação do PEB: os feirantes voltariam para o exterior do Altice FORUM Braga. Com a mudança para o sopé do Monte Picoto/Estrada Nacional, alguns feirantes suspenderam a actividade, mas há relato de outros que optaram mesmo por desistir da Feira de Braga.
Áudio:
Presidente da Associação de Feirantes do Porto Douro e Minho em declarações à RUM
