Incêndio deve ser lição para aplicação de planos de risco

Daniel Oliveira, docente e investigador da Escola de Engenharia da UMinho defende a implementação obrigatória de planos de conservação preventiva nos monumentos para minimizar riscos como o que ontem ocorreu na Catedral de Notre Dame, em Paris.

A investigação está em curso, desconhecem-se as causas do incêndio, mas o monumento mais visitado da Europa estava em obras. Uma intervenção profunda que é o ponto de partida para a análise do docente da academia minhota. O investigador refere que este tipo de construções “são muito sensíveis, com materiais altamente inflamáveis”. Tratava-se de um edifício “repleto de madeira” o que se torna “um risco complicado”. O procedimento correcto, que o docente acredita que exista, é um “plano de risco, elaborado e detalhado, elencando todos os riscos possíveis” para que fossem “acautelados e mitigados”.

Acidente deve servir de exemplo

O docente não duvida da existência do referido plano para a obra em curso e que em causa poderá estar falha humana. Ainda assim, o “acidente” deve agora “servir de exemplo” para a exigência de um plano de conservação preventiva. 

“Aparentemente esta igreja estava a precisar de obras urgentes e isso não devia ter acontecido, ou seja, devia haver um plano de conservação preventiva em que à medida que as inspecções regulares fossem feitas, se percebesse quais eram os problemas e se intervisse com pequenas acções. Muitas vezes são coisas de custo reduzido e que permitem prolongar a vida útil e evitar problemas complicados como, aparentemente, a Catedral sofria. Essa deve ser uma das grandes lições”, considera o especialista.

O inquérito para averiguar as causas do incêndio está a decorrer, mas o docente não esconde que algum problema deve ter existido no plano de risco. “Alguma coisa correu mal. Este tipo de construção com peças muito sensíveis no seu interior exige um plano de risco extremamente detalhado para que se a solução ‘A’ correr mal haja logo um plano ‘B’. Admito que o plano teria isto e que, eventualmente, foi mal executado ou nalgumas coisas as pessoas não se preocuparam tanto. Não sei, é complicado, e a mim causa-me extrema surpresa que isto tenha acontecido em França”, afirma.

Obra vai demorar anos e levantar polémicas

O presidente francês já anunciou a reconstrução da Catedral e já começaram a surgir os primeiros donativos de milhões de euros para o processo. Daniel Oliveira afirma que “há sempre muitas vertentes em jogo, o que vai gerar muita discussão na sociedade francesa”. “E agora que estamos no tempo do politicamente correcto eu vejo isso como ainda mais complicado. Não é possível agradar a todas as vontades, vai ser preciso tomar uma decisão, e esse caminho não vai agradar a todos”, acrescenta.

Monumentos de maior valor patrimonial em Portugal deveriam ter plano de risco

Questionado sobre a realidade de Portugal nesta matéria de preservação e obras em monumentos, Daniel Oliveira insiste na importância de um plano de risco para evitar situações como a que esta segunda-feira aconteceu no monumento mais visitado da Europa. “Não sei se existe plano de risco para cada um dos monumentos. Acho que os monumentos que têm mais valor patrimonial deveriam ter um plano de risco, mas não estou a dizer que não têm”, avisa, desconhecendo a realidade actual no nosso país. Reconhecendo que os recursos “são muito curtos”, o investigador lembra que quando se faz um plano de risco “vão surgir situações complexas em que é preciso recursos para os resolver antes que os problemas aconteçam, mas isso exige financiamento”, sublinha.

Monumentos e edifícios classificados têm medidas de protecção específicas

Entretanto, a Direcção Geral do Património (DGP) indicou esta terça-feira em declarações à RTP que está a criar uma carta de risco dos monumentos nacionais. Um documento que estará pronto em parte no Verão.

A DGP diz que além desta carta de risco existem inspecções periódicas e um sistema de detenção de incêndios ligado aos bombeiros, 24 horas por dia.

Paula Araújo da Silva refere que a carta de risco avalia quatro mil edifícios classificados que pertencem ao Estado português.

Áudio:

Docente analisa possibilidades de risco numa altura em que decorriam obras na Catedral e alerta para a necessidade de planos de conservação preventiva

Elsa Moura
Elsa Moura

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