Intolerância e paz. Braga pelos olhos de dois imigrantes

O programa Erasmus+ trouxe para Portugal, mais especificamente para a cidade dos arcebispos, vários imigrantes de leste que procuram uma oportunidade de continuar os estudos. Para alguns será uma viagem sem regresso, outros mantêm o amor à terra que os viu nascer.

“Não há segurança na Palestina”. Estas foram as primeiras palavras de Rashed Ashqar. Em 2016 decidiu, por influência do irmão, optar pela Universidade do Minho para terminar o mestrado em Finanças. Natural de Nablus, uma cidade a norte da Cisjordânia, o estudante faz aos microfones da RUM um relato de episódios que o marcaram e pesaram na balança quando ponderou vir para a Europa.

“Sem qualquer motivo eles, os israelitas, entram nas nossas casas, quer seja noite ou dia e levam os nosso familiares e amigos para a prisão. Todos os dias inúmeros palestinianos são assassinados sem motivo, basta pensarem que estamos a planear alguma rebelião. Não há segurança“, sublinha Rashed.

Milhares de palestinianos estão a abandonar o país, uma vez que a Palestina é, neste momento, uma terra sem futuro. Rashed confessa que o seu “sonho” é regressar a casa e conseguir, através dos estudos, “contribuir para que a terra que o viu nascer se erga novamente”. Caso contrário “os israelitas vão conquistar as nossas terras e outras cidades palestinianas”.

Rashed Ashqar é muçulmano praticante e como tal todos os dias faz cinco orações. Uma de manhã, duas de tarde, mais uma novamente ao final do dia e termina as suas rezas já durante a noite. No que diz respeito aos bracarenses, o imigrante não tem nada de mal a apontar uma vez que “respeitam muito os costumes e a presença no país”. Garante que nunca foi alvo de discriminação ou intolerância, no entanto já ouviu algumas brincadeiras salpicadas de estereótipos como por exemplo “não expludas uma bomba”. Para além disso, são inúmeros os colegas de Ashed que se mostram “curiosos sobre a situação na Palestina”.

O imigrante deixa apenas uma sugestão aos autarcas das cidades portuguesas. Para Ashed são necessários mais espaços para que as pessoas se sintam à vontade para praticar os seus costumes e religião. Para além disso, devido ao desconhecimento da população, os executivos deveriam “apostar em seminários ou workshops” para um maior conhecimento e promover a integração das minorias na sociedade portuguesa.

“As minhas boas memórias foram todas passadas em Portugal”, começa por dizer Tarek Sarhan, imigrante sírio que desde 2014 vive em Braga. Está na UMinho a tirar um mestrado em Direito, sendo que anteriormente se licenciou em Relações Internacionais. No início desta aventura nunca imaginou permanecer na cidade dos arcebispos mais de um ano, porém as similaridades entre os dois países fizeram como que Tarek nunca se tenha sentido “fora de casa”.

Antes da guerra, em 2011, Tarek descreve Idlib, a cidade que o viu nascer, como a “cidade verde da Síria”. Um local com muita natureza, tal como o norte de Portugal. Os bracarenses são pessoas muito “simpáticas e sobretudo acolhedoras”. Outros dos valores partilhados entre as duas nacionalidades é do da família. Tarek afirma que “nunca se sentiu discriminado”, porém nota que existe um enorme desconhecimento da situação e dos costumes Sírios.

Quanto às dificuldades, o estudante não hesita e aponta a “língua” como o maior entrave inicial. “Tenho a sorte que na região de onde venho falamos arábe mas também francês o que facilitou a aprendizagem”, explica. Tarek acrescenta que na Síria são poucos os que conhecem Portugal, “a maioria pensa na terra do Cristiano Ronaldo, mas eu também sabia que os portugueses foram os responsáveis por descobrir o caminho marítimo para a Índia”.

Tarek gostava de deixar uma mensagem a todos os portugueses. “Não temos liberdade para escolher. Todos os dias vivemos a guerra e por isso somos obrigados a deixar tudo e abandonar a nossa casa, amigos e país. As pessoas deviam perguntar mais. Deviam querer saber a nossa história antes de julgar. Não tenham medo de perguntar”, sublinha.

A palavra que mais carateriza o povo português já consta no vocabulário do imigrante: saudade. Saudade da família, saudade dos amigos e saudade da sua casa na Síria. Porém, neste momento, não troca a vida que está a construir em Braga. Tarek confessa que quer terminar os estudos e encontrar trabalho. Nas suas palavras, os seus planos “não passam por regressar à Síria num futuro próximo”.

Áudio:

Os testemunhos de dois imigrantes da Síria, Tarek Sarhan e Palestina, Rashed Ashqar. Uma reportagem com carimbo RUM.

Vanessa Batista
Vanessa Batista

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