Livro revela processo contra estudantes na crise académica de 1969

Foi apresentado esta quarta-feira, no Largo do Paço, o livro “O Processo”, uma obra assinada pelo vimaranense Gualberto Freitas, que aborda o processo instaurado a 40 activistas estudantis em 1969 e que agrega inúmeros documentos da época.

Rodeado de fotos que lembram o acontecimento, o autor confessa que apresentar a obra na Universidade do Minho, “a sua casa”, lhe dá “um especial prazer”. Parte dessas fotografias, patentes na sala dos arcos da galeria do Paço desde o dia 8 de Novembro e que integram a mostra “A Crise Académica de 1969: Memórias“ de José Veloso, fazem parte da compilação de documentos que o livro de Gualberto Freitas integra.

Foi entregue ao autor, há dois anos, um arquivo clandestino dos estudantes do PCP, que estava na Universidade de Coimbra, composto por centenas de documentos, como correspondência e um processo disciplinar levantado a 40 alunos, há 50 anos.

Seria mesmo esse processo, nunca antes publicado, considerado como !o processo fundamental levantado pelo regime contra os principais dirigentes estudantis”, que daria nome ao livro, que apresenta ainda “panfletos da direcção, diferentes comunicações, caricaturas da altura e fotografias”. Além disso, nas 527 páginas podem ler-se os depoimentos, de testemunhas, acusação e a peça da defesa, bem como o inquérito.

“É um processo mandado instaurar pelo ministro da Educação, José Hermano Saraiva, em que prestam depoimentos reitor, vice-reitor, diferentes professores, estudantes, funcionários, agentes da PIDE. É um documento a quente”, disse à RUM o autor.

No meio dos depoimentos, fica-se com a impressão de uma sociedade já em si dividida em relação ao Estado Novo, com professores a tomarem “posições de denuncia e outros de defesa”. “Os depoimentos são quase todos eles muito interessantes, mas há um depoimento muito curioso que é de um archeiro da Universidade de Coimbra que presenciou tudo aquilo e que, interrogado, diz que não viu, não sabe, não conhece e recusa-se, na prática, a responder”, acrescentou.

José Capela, presidente da comissão do “Prémio Victor de Sá de História Contemporânea”, entidade que organiza os eventos q ue durante o mês de Novembro relembram a crise académica de 69, considera “O Processo”, “um livro que se aconselha a quem quiser seguir como funcionavam os tribunais e a polícia na recolha destes materiais e o percurso de alguns casos paradigmáticos desta crise”.

Quanto à exposição, José Capela considera-a “única e talvez a mais completa e organizada sobre a crise de Coimbra”.

“O Processo”, obra do vimaranense Gualberto Freitas, foi apresentando ao final da tarde no Largo Paço. A iniciativa integra o conjunto de actividades que durante o mês de Novembro assinalam a Crise Académica de 1969, que contempla uma exposição e ainda a apresentação de mais duas obras: “Peço a palavra”, de Alberto Martins, aprensentada a 20 de Novembro, e Bracarenses na Crise Académica de 1969”, de Luís Reis Torgal, a 27.

Liliana Oliveira
Liliana Oliveira

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