Luísa Sobral e a “degustação refinada” chegam a Braga

Luísa Sobral chega esta sexta-feira a Braga para, no Altice FORUM (21h30), apresentar o seu mais recente disco Rosa. Editado em Novembro passado, trata-se do seu quinto álbum de originais e é marcado pela mudança no registo musical. Produzido pelo catalão Raül Refree – que já trabalhou com Silvia Pérez Cruz ou Rosalía -, a edição dispensa a bateria e o baixo e leva a estúdio e a palco um trio de sopros. É também o primeiro trabalho de Sobral cantado inteiramente em português.
Liricamente, as canções vão ao encontro do que já foi feito e a novidade, na criação e ao vivo, passa agora pelo repelir do acessório, do querer fazer simples. Uma tarefa que não é, segundo Luísa, assim tão simples.
“Tudo o que eu gosto na arte são coisas que parecem simples mas que depois não são necessariamente simples”, começa por dizer. O conceito de simplicidade é aqui alargado à emoção das canções, sem entraves e desvios pelo caminho: “foi sempre isso que quis fazer com a música, fazer algo que parece simples, com uma emoção muito directa”. Esse aparente desadorno também se reflecte na composição dos temas. “A maior parte das canções são voz e guitarra, e, mesmo nos arranjos, não quis instrumentos que não fossem completamente necessários”.
O tema Envergonhado é o principal exemplo da tal crueza que Luísa tanto deseja. O tema foi gravado num único take, para expressar a naturalidade de todo o disco. “Cada vez gosto mais das coisas mais reais. Não quero fazer o ‘ah, não gosto desta parte da voz, vou cortar e fazer colagem’. Acho que isso acaba por não passar tanto a emoção, para o público e para mim”.
Mas a naturalidade que Luísa exigiu no processo de criação estende-se apenas à musicalidade? Não haverá vontade de produzir algo contracorrente, distante das produções massivas que hoje ocupam o espaço comercial na música?
“Nada do que eu faço é um statement para nada. Eu fiz as coisas assim não pensando no que se faz hoje em dia. Se calhar, no meu subconsciente, estou um bocadinho saturada disso, da música com muita confusão. Mas não faço nada para contrastar com o que há aí”, enfatiza.
Rosa foi editado em Novembro e, desde então, já percorreu salas em Portugal, Espanha, Letónia ou Itália. É o primeiro disco de Luísa Sobral apresentado ao vivo que dispensa a bateria ou o baixo e, antes, traz o fliscorne, a trompa e a tuba a palco. O espectáculo torna-se, por isso, num encadeamento único e menos pop. Tal e qual como na criação, o adorno mais convencional é afastado ao vivo.
“Esta música é muito calma, muito introspectiva, as pessoas ouvem cada palavra, parece que estou a contar histórias. É normal acabar de tocar uma canção e as pessoas não entrarem em euforia”, explica Luísa, antes de reconhecer que toda a experiência foi “foi estranha, ao início”.
“Eu sentia que isso [o silêncio] reflectia o desagrado do público mas cedo percebi que não era assim. Eu fui tocar ao Uruguai e questionei o público por causa da ausência do barulho. No fim, um senhor perguntou-me sobre o que é que eu queria deles. Foi aí que percebi que estava errada”.
Errada porque, segundo diz, o seu espectáculo é para “desfrutar”. E lança uma curiosa analogia. “Quando comemos comida num fast-food, acabamos e dizemos que estamos cheios mas quando vamos a um restaurante bom saboreamos cada coisa que aparece no prato.” A experiência de ouvir Rosa é, assim, “uma degustação mais refinada, para ser feita com calma”. “Eu, como chef, não posso esperar que a reacção seja rápida”.
Contente por tocar em Braga
Luísa Sobral vai apresentar Rosa pela primeira vez no distrito de Braga. Desafiada a antecipar o espectáculo, Luísa refere que o público pode “esperar entusiasmo”.
“Braga é uma cidade muito bonita, é das minhas cidades favoritas. Fico entusiasmada a tocar em qualquer cidade e, nas de que gosto, ainda mais”.
Quanto à experiência em palco, Luísa descreve o seu espectáculo como tendo “altos e baixos”. “Não é um concerto só intimista, tem muitas histórias e gosto muito de partilhar o que é que está por detrás das canções. Não quero soar pretensiosa mas acho que é um concerto interessante porque soa diferente de tudo: toco com duas guitarras e um trio de sopros clássicos. Um som muito bonito”.
Luísa Sobral apresenta-se no Altice FORUM Braga esta sexta-feira (21h30). Os bilhetes podem ser adquiridos aqui.
Áudio:
Luísa Sobral esteve à conversa com a RUM
