“Não é fácil voltar à escola com 42 anos”

“Não é fácil voltar à escola com 42 anos”, mas em Braga são cada vez mais aqueles que seguem o caminho de José Afonso, depois de integrarem o Centro QUALIFICA do município de Braga. Esta quinta-feira foram entregues os primeiros diplomas de nível básico aos bracarenses que decidiram arriscar no regresso à escola, depois de diferentes motivações que os levaram a abandonar as salas de aula em tenra idade.

Antes da cerimónia de entrega dos diplomas que contou com a presença do presidente da autarquia e da vereadora da Educação, José Afonso apresentou à sala o seu testemunho. “Tinha apenas o 6º ano de escolaridade, vivia num bairro social e tive de abandonar a escola para ajudar os meus pais”, confessou. Trabalha na área da segurança, mas já ganhou e ajudou a ganhar títulos alguns amantes de kickboxing. Mas foi no meio profissional que se viu barrado “a subir” por causa do nível de escolaridade. Com o diploma do 9º ano na mão, assegura que já se está a preparar para concluir o 12º ano. Depois disso admite a hipótese de um dia ingressar no ensino superior. “Voltei a ganhar o bichinho de aprender”. Um exemplo que acredita poder ficar para aqueles que por algum motivo ainda não arriscaram.

É de outros José Afonso que Portugal precisa. Regina Almeida, coordenadora da região Norte da Agência Nacional de Qualificação lembra que é preciso “cumprir um imperativo nacional de qualificar a população portuguesa. Mais de 50% dos adultos não têm o ensino secundário”.

A coordenadora deste ‘Novas Oportunidades mais avançado’, elogiou a estratégia de cooperação que vem sendo seguida pelo município de Braga desde que arrancou com o próprio Centro QUALIFICA em 2013. “Ninguém consegue fazer nada sozinho” e a rede de parcerias que o município de Braga alavancou “é um investimento que vale a pena”. 

Ao longo destes anos, o município vai somando parcerias com a Associação Industrial do Minho, instituições de solidariedade social, empresas e agrupamentos de escola. Hoje foi a vez de a Bragahabit e o Agrupamento de Escolas de Celeirós integrarem a rede municipal do Centro QUALIFICA. Exemplos que, na opinião de Regina Almeida, deviam resultar numa rede de centros qualifica de Braga, uma vez que existem mais cinco no concelho. “Em vez de ser uma competição é uma cooperação. Cada centro perceber o que faz melhor e cada um ter uma área do que faz melhor”, sustenta.

A autarquia mostrou-se disponível para responder ao desafio nacional. Recorde-se que, além de Braga, apenas Famalicão e Almada seguem esta estratégia de cooperação com parceiros locais.

A vereadora da Educação, Lídia Dias realça o crescimento do projecto desde a sua implementação e o impacto que pode ter no território e no país. Para a responsável pela pasta da Educação em Braga “tomar a decisão de querer ter mais competências é dar mais ao nosso contexto e fazer o território avançar”.

Já o autarca Ricardo Rio marcou presença para assistir ao momento “em que se colhem os primeiros frutos”, expectante de que “mais se possam seguir” porque “o concelho precisa de pessoas mais qualificadas” tendo em conta o lado “económico” mas também o lado “social”.

Bragahabit e Agrupamento de Escolas de Celeirós entre os novos parceiros

Vítor Esperança, administrador da Bragahabit acredita no impacto que será possível ver acontecer junto de uma franja da comunidade mais desfavorecida. “Lidamos com cerca de 1300 famílias, se multiplicar por um número de um agregado normal vê o número de pessoas que nós podemos atingir, sobretudo com famílias que sofrem de outros problemas associados aos baixos rendimentos, o que muitas vezes motiva o afastamento da escola. Pode ser uma oportunidade de recuperar aquilo que perderam por circunstâncias da vida”, defendeu.

O agrupamento de Celeirós foi o último a associar-se a esta causa. Para a directora, Célia Simões, o trabalho do agrupamento será de divulgação do QUALIFICA “junto dos encarregados de educação e familiares dos alunos. É sempre bom para o futuro e para a qualificação de Portugal”.