“Queremos que as empresas sejam capazes de produzir mais com menos gente”

“Produzir mais, com menos gente”. Foi este o desafio lançado pelo ministro da Economia, esta quarta-feira, em Famalicão. Questionado sobre o novo plano estratégico do têxtil, que admite que, até 2025, o sector possa perder duas mil empresas e 28 mil trabalhadores, Siza Vieira preferiu não comentar directamente os números, referindo antes que se trata de “uma visão muito ambiciosa para o sector, que quer crescer em volume de negócios, em exportações e na produtividade”. Siza Vieira reforçou a necessidade de investimento das empresas na “qualificação e na inovação”, que “o Governo e as políticas públicas têm que apoiar” para que se tornem “mais produtivas e mais sólidas e para que criem melhores condições de trabalho”.
“Nós temos uma força de trabalho neste sector que já tem uma certa idade e é possível que vá começando a haver algumas pessoas que vão abandonando o sector. O que queremos é que a renovação da força de trabalho se faça com pessoas mais qualificadas e que as empresas mais produtivas sejam capazes de produzir mais com menos gente. Há uma ideia de sucessão de gerações na indústria com cada vez maior qualificação e com empresas que vão ganhar escala e vão tornar-se mais competitivas a nível internacional e por isso conseguem produzir mais e melhor”, afirmou o ministro.
Confrontado com o facto de haver já empresas do sector com falta de trabalho, Siza Vieira lembrou o “abrandamento do crescimento da economia europeia, para a qual Portugal exporta bastante, o que significa menos encomendas”, mas frisou que “o sector continua a ter capacidade de ser competitivo e de se afirmar”. “As empresas têm condições para investir no seu futuro, na modernização, digitalização e economia circular porque quem não o fizer não vai conseguir ter capacidade de se afirmar junto das preferências dos novos consumidores”, acrescentou.
“Estado português vai acompanhar a ambição do sector”
Siza Vieira lembrou ainda, no que diz respeito a matéria de incentivos que há “a vontade de criar um banco promocional para ajudar o sistem bancário a fazer chegar crédito às empresas para apoiar o processo de investimento, que vai ter que ser muito grande”.
Na presença de muitos empresários da região, no “Forum da Indústria Têxtil – ITV no Horizonte 2025: Uma visão Prospetiva”, que decorreu no CITEVE, o ministro deixou a garantia de que “podem contar com o Estado português”, que “vai acompanhar a ambição do setor”.
A ATP pretende que o Governo crie medidas especiais, a nível fiscal ou de incentivos financeiros, para promover a concentração empresarial. Na resposta, Siza Vieira garantiu também que “as instituições financeiras do Ministério da Economia vão contribuir para melhorar as condições de acesso ao financiamento”, frisou ainda. Mário Jorge Machado pediu ainda ao Governo mais apoios e frisou a preocupação das empresas em “remunerar o melhor possível os trabalhadores”, referindo, no entanto, que os aumentos devem estar ligados à inflação e produtividade”.
Quanto aos custos da energia, apontados também pelo presidente da ATP no discurso, o ministro referiu que “o diferencial tem de continuar a diminuir face aos parceiros europeus” e antecipou a abertura de novos avisos do Portugal 2020 dirigidos à internacionalização e à modernização das infraestruturas tecnológicas deste setor, assegurando ainda que o Governo vai manter os incentivos fiscais aos ganhos de escalas das empresas e os atuais apoios na qualificação dos trabalhadores.
“Não há motivo para alarmismo”
A indústria têxtil e de vestuário portuguesa pretende ser líder mundial em produtos de nicho e de alta gama, passando de seguidora a criadora de tendências. O sector, disse o presidente da ATP, “atingiu máximos históricos ao nível das exportações e da produtividade, fazendo crescer o emprego”.
O documento estabelece, também, objetivos quantificados para 2025: faturar oito mil milhões de euros, dos quais seis mil milhões obtidos nos mercados internacionais, e contribuindo com mais de mil milhões de euros de saldo líquido na balança de pagamentos.
O presidente da AssociaÇao têxtil Portugal (ATP), aponta duas linhas orientadoras deste Plano: “sustentabilidade e design”.
“Estamos a trabalhar para sermos o primeiro sector, a nível europeu, que vai trabalhar só com energia renovável. Vai ser um marco histórico”, disse o Mário Jorge Machado.
Quanto ao facto de o sector poder perder dentro de 5 anos duas mil empresas e 28 mil funcionários, o presidente da ATP considera que “não há motivo para alarmismo”, embora assuma que, nos próximos anos, “o cenário é exigente e difícil”. Apesar disso, Mário Jorge Machado mantém-se optimista porque prevê “um aumento do volume de negócios e das exportações”.
“Temos que perceber que actural que demografia vai evoluir, os negócios vão modificar e as empresas vão ter que se adpatar. Estamos a falar num prazo de dez anos e, em Portugal, reformam-se por ano 5 mil pessoas, ou seja, em 10 anos são 50 mil, por isso vamos precisar de atrair mais pessoas do que as que vão desaparecer”. Quanto aos jovens qualificados, lembrou o presidente da ATP, que “há cerca de dez anos havia poucos alunos para entrar na Engenharia Têxtil, hoje é dos sectores que na UMinho tem mais procura”. Mário Jorge Machado falou ainda da necessidade da formação ao nível dos “técnicos têxteis”.
Foi, esta quarta-feira, apresentado em Vila Nova de Famalicão o novo plano estratégico do sector têxtil ate 2025, que aposta na digitalização, na diversificação de mercados e clientes, e na proximidade ao cliente final.
