Saúde mental. Pode o futsal ajudar a combater o preconceito?

Adão Ferreira sente a responsabilidade de carregar a braçadeira de capitão da equipa do Gabinete Integrado de Serviços de Saúde Mental de Braga (GIS). Não é homem habituado a conferências de imprensa nem a declarações exaustivas sobre o estado do plantel. “Estamos a evoluir. Jogamos cada vez melhor”, revela. Na sexta-feira, no Pavilhão Gimnodesportivo de Lamaçães, vai ser a voz de comando de um grupo formado por utentes, familiares e colaboradores.

Durante o ano, a prova foi preparada com treinos, uma vez por semana, onde dois técnicos alinhavam tácticas, corrigiam posições e definiam estratégias. Aqui não se quer ganhar troféus. A maior bandeira que pode ser carregada é a da igualdade. Mas, apesar disso, perder nem a feijões. Adão Ferreira, vestido a rigor, admite que o pensamento da equipa passa apenas “por ganhar”.

É portador de doença mental, limitação que nunca foi um entrave para pensar o jogo dentro das quatro linhas. Hoje, durante a sessão de apresentação do torneio, foi um dos membros integrantes de um painel também composto pelo ex-atleta do SC Braga, Alan Osório. Longe dos relvados, o agora dirigente da formação arsenalista vai passando a mensagem de que “todos podem fazer desporto, apesar das limitações”.

Enquanto padrinho da competição, Alan apela à criação de mais iniciativas como esta. Esse foi também um desejo demonstrado pela coordenadora do GIS, Catarina Iglésias e por Sameiro Araújo, vereadora do Desporto da Câmara Municipal de Braga. Todos partilham da ideia de que “este é um evento importante para que estas pessoas não fiquem isoladas da sociedade”.

Numa “cidade inclusiva, onde o desporto deve ser para todos”, Catarina Iglésias acredita que o futsal pode ser uma forma de integrar “pessoas que muitas vezes são colocadas de parte pela sociedade”. O torneio organizado pelo GIS surgiu há um ano motivado por uma necessidade de mostrar que a doença mental não impossibilita a prática de desporto. Mais quatro entidades do distrito que integram serviços em sáude mental também disseram “sim” ao convite do GIS.