SIDA. Milhares de doentes não são seguidos

Há nove mil doentes diagnosticados com VIH que não estão a ser acompanhados pelos serviços de saúde. A denúncia é feita pelo presidente do GAT – Grupo Ativistas em Tratamentos, Luís Mendão, a propósito do Dia Mundial da Luta Contra a Sida, que se assinala hoje. O responsável defende a necessidade de se identificar estes doentes de forma a controlar a infecção.
Luís Mendão chega a este número pela diferença entre as pessoas diagnosticadas (“cerca de 42 mil”) e as 33 mil pessoas em tratamento nos hospitais. Num estudo, em que foram usados dados de 2014, já se chegava à conclusão de que 7500 doentes diagnosticados não tinham chegado aos serviços de saúde. António Diniz, médico especialista e ex-diretor do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida, um dos autores deste estudo apresentado, este ano, admite que “estes 7500 podem ter aumentado” e que representam “um desafio” para o controlo da infeção. A mesma opinião é partilhada pelo infecciologista Fernando Maltez. “Haver um número de doentes que fogem aos cuidados clínicos, e ao tratamento, que não estão medicados e continuam a ser um foco permanente de transmissão da doença.”
Do lado do governo, foi publicado um despacho – pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde, que impõe até ao final do ano a implementação do sistema informático do VIH em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde que seguem pessoas infetadas com o vírus da imunodeficiência humana.
Estudo indica que número de idosos com VIH deverá duplicar em 20 anos
O número de pessoas com o vírus da Sida em Portugal, com mais de 50 anos, deverá duplicar nas próximas duas décadas.
A previsão consta de um estudo pioneiro que alerta para uma realidade futura e que obriga o Serviço Nacional de Saúde a repensar os cuidados primários.
No Mundo, a cada hora 18 crianças são infetadas com o VIH
A cada hora que passa 18 crianças são infectadas com o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), responsável pela morte de 120 mil crianças em 2016, segundo as estatísticas da Unicef sobre a doença.
As projecções da Atualização Estatística da Agência das Nações Unidas para a Infância (Unicef) sobre Crianças e o VIH referem que, “se as tendências atuais persistirem, haverá, até 2030, 3,5 milhões de novas infeções pelo VIH em adolescentes”.
Para o responsável pelo setor da SIDA da Unicef, Chewe Luo, “é inaceitável que continuemos a ver tantas crianças a morrer devido ao VIH e tão pouco progresso para evitar novas infeções por VIH nos adolescentes”. A epidemia do VIH não acabou, continua a ser uma ameaça para a vida das crianças e dos jovens, e mais pode e deve ser feito para evitar isto”, acrescentou.
A Unicef adianta que os objectivos estabelecidos para acabar com a Sida entre crianças no documento interagências das Nações Unidas, 2020 Super-Fast-Track, publicado em 2016, não serão alcançados.
O documento refere alguns progressos, nomeadamente na prevenção da transmissão do vírus de mãe para filho, uma vez que cerca de dois milhões de novas infeções entre crianças foram evitadas desde 2000.
A organização adverte, contudo, que “este progresso não deve levar à inércia, pois a Atualização Estatística destaca que as crianças até aos quatro anos de idade que vivem com VIH enfrentam o maior risco de morte pelo vírus, em comparação com outras faixas etárias”.
Os autores denunciam ainda atrasos nos testes e no tratamento pediátrico do VIH. “Apenas 43% dos bebés expostos ao VIH são testados nos primeiros dois meses de vida e só a mesma percentagem de crianças que vivem com VIH recebe tratamento antirretroviral”, lê-se no documento.
Outra crítica da Unicef vai para o progresso na prevenção de novas infeções por VIH entre adolescentes e a melhoria dos testes e tratamento nesta população que “tem sido inaceitavelmente lento”.
Só em 2016, prossegue o documento, “55.000 adolescentes (10-19 anos) morreram por causas relacionadas com a Sida, dos quais 91% deles eram originários da África subsaariana”.
Segundo os dados, “para cada cinco adolescentes rapazes com VIH, existem sete raparigas infectadas”.
Entre as soluções apontadas pela Unicef consta o investimento e a utilização em soluções inovadoras, como o auto-teste de VIH, tratamento profilático pré-exposição e novos medicamentos pediátricos
“Ampliar a resposta para as crianças, incluindo a expansão dos programas de tratamento e o investimento em novas tecnologias para diagnóstico em pontos de atendimento” e “fortalecer a capacidade dos governos para a recolha de dados completos e desagregados relativamente a dados sobre testes e tratamento, especialmente em adolescentes” são outras das medidas propostas.
A Unicef defende que as intervenções para adolescentes na África subsaariana sejam prioritárias.
Com SIC Notícias, Diário de Notícias e RTP
Áudio:
Luís Mendão, a propósito do Dia Mundial da Luta Contra a Sida
