Sobrevivente do Holocausto: “Não sejam meros espectadores”

“Não sejam meros espectadores”. É esta a mensagem de Werner Reich, sobrevivente do Holocausto, que esta quarta-feira passou por Braga, pela Escola Secundária Alberto Sampaio. Com 90 anos, o alemão está em Portugal por estes dias, depois de um pedido para participar num programa de televisão da RTP sobre magia. “Eu aceitei o convite para o programa mas disse que, enquanto estivesse em Portugal, gostava de falar com os estudantes, porque a minha mensagem é, para mim, muito importante”, começou por sublinhar à RUM.
Werner Reich aproveitou a vinda ao nosso país para contar como foi ser criança e adolescente judeu nos campos de concentração de Auschwitz. A mensagem de Werner é simples: “Não sejam meros espectadores. Defendam os outros e ajudem sem que vos seja pedido”, sublinhou. “Sou um sobrevivente do Holocausto e este nunca teria acontecido se as populações se tivessem insurgido contra ele, mas, na altura, ninguém disse uma palavra. Como resultado, 12 milhões de pessoas foram mortas. Não quero que isto aconteça outra vez”, disse.
Ao passar esta mensagem, o sobrevivente destacou que existem, actualmente, muitos “mal entendidos” acerca da II Guerra Mundial que é preciso desmistificar. “Pensam, em primeiro lugar, que apenas 6 milhões de pessoas morreram no Holocausto. Na verdade, morreram cerca de 12 milhões de pessoas. As pessoas falam apenas dos judeus, mas esquecem os católicos, os ciganos, as testemunhas de jeová e as pessoas com deficiência”, referiu.
Outro “mal entendido” é que “os judeus viviam todos em pequenas cidades da Polónia, que foram presos e levados para guetos e depois para Auschwitz”. De acordo com Werner, na verdade, a maioria dos judeus “vivia nas grandes cidades e tornaram-se, por exemplo, vencedores de Prémios Nobel, ou ajudaram a criar a bomba atómica”.
Quando muitos dizem que poderemos estar perto de uma terceira Guerra Mundial, Werner Reich é mais optimista. “Donald Trump expressou algumas opiniões sobre imigração e, em resultado, milhares de pessoas foram para a rua manifestar-se, o que não aconteceu na Alemanha Nazi. Isso dá-me a sensação reconfortante de que nada de sério vai acontecer”, assegurou. Werner Reich sublinha que “sim, ainda existem fascistas, mas agora sabemos onde eles estão, como os evitar e como viver com isso”.
“The Magician of Auschwitz” é um LIVRO COM RUM
Aos 90 anos, Werner é também figura central do livro “The Magician of Auschwitz” e, esta terça-feira, a sua visita não passou ao lado de António Ferreira, do programa Livros com RUM, que esteve à conversa com o autor. O programa será divulgada em breve.
Em jeito de resumo, Werner explicou que quando esteve em Auschitwz conheceu um homem chamado Herbert Levin, que era “muito simpático”, conta. “Era mais velho alguns anos e foi muito meu amigo”. “Um dia, voltei ao quarto e ele estava sentado na cama de cima a estava a jogar com cartas. Para mim era um milagre porque não tínhamos nada”, sublinhou.
Na verdade, os nazis sabiam que Levin era mágico e deram-lhe cartas, diz Werner. “Ele estava a mostrar truques e ensinou-me alguns. Eu levei esses truques na cabeça, durante cerca de um ano, até que conseguisse ter cartas. Depois fi-lo e chateei os meus amigos com isso por algum tempo”. Nasceu assim a paixão pela magia e também o livro, escrito por Kathy Kacer. Actualmente, Werner é membro do “International Brotherhood of Magicians”.
Biografia
Werner Reich nasceu em Berlim, em 1927. A família vivia de forma desafogada, até Hitler chegar ao poder, em 1933, e o pai do menino de seis anos perder o emprego. Werner, os pais e a irmã mudaram-se para Zagreb, na então Jugoslávia e foi aí que, em 1940, o pai das crianças morreu de doença. No ano seguinte, os nazis invadiam o país e a separação da família consumava-se.
O sobrevivente viveu durante dois anos com um casal que trabalhava para a Resistência, tendo sido levado, uma manhã, pelos homens da Gestapo, para a prisão em Graz. Mais tarde, foi para o campo de concentração de Terezin. Aos 16 anos foi enviado para o campo de concetração de Auschiwitz-Birkenau. Foi lá que lhe atuaram o número A-1828l. O jovem judeu ainda enfrentou uma marcha de morte até ao campo de Mauthausen, na Áustria, onde foi libertado pelos soldados norte-americanos em Maio de 1945.
