Urbanista externo vai coordenar projecto das Sete Fontes

Quase quatro anos depois de ter sido eleito, Ricardo Rio apresentou hoje o urbanista Jorge Carvalho como o rosto da equipa que vai liderar o plano de execução do Parque das Sete Fontes. Já classificado como Monumento Nacional, há ainda muito a fazer até à concretização do parque. Hoje em dia é possível visitar as Sete Fontes, mas o enquadramento que a autarquia pretendia para o espaço está longe de ser uma realidade.
Jorge Carvalho é considerado um dos melhores urbanistas do país, foi responsável por diversos projectos em diferentes municípios e é docente e investigador na Universidade de Aveiro, tendo agora nas mãos um processo complexo com o fim que todos os bracarenses pretendem: um verdadeiro parque verde na cidade. Nos partidos da oposição em Braga repetem-se as críticas ao executivo liderado por Ricardo Rio. O Parque das Sete Fontes era considerado uma das bandeiras da coligação Juntos por Braga em 2013, mas em 2015, Ricardo Rio já reconhecia que a complexidade do processo não permitia acelerar o parque verde e que o mesmo afinal não seria uma realidade neste mandato.
Com aproximadamente vinte proprietários, aquela zona que em tempos esteve para ser preenchida por centenas de moradias e apartamentos, já não corre esse risco, e por isso, mais cedo ou mais tarde, deverá tornar-se um verdadeiro parque da cidade. Ainda assim, o entendimento com os donos continua a ser a grande dor de cabeça do município que pretende oa via do diálogo e que coloca a expropriação como última alternativa.
Jorge Carvalho, urbanista com trabalho reconhecido em diversos municípios do país, é o homem escolhido para um trabalho que se prolongará, pelo menos, pelos próximos dois anos. O docente da Universidade de Aveiro foi apresentado hoje aos jornalistas, onde referiu que a partir daqui é preciso “organizar e enquadrar o espaço” de uma forma “aberta” uma vez que terá ser um projecto “muito participado”.
O coração da intervenção é o parque que, no caso, “não será um dos parques muito artificiais que existem nos centros da cidade”, assegurou. Aqui “a floresta entra na cidade”, num local “com história, património edificado, património ambiental e o referencial fortíssimo da água”.
Jorge Carvalho quer que o espaço “faça parte da própria cidade” e vai estudar “a melhor forma para aceder ao parque, onde colocar os carros, e os atravessamentos pedonais de acesso ao mesmo”.
Fases do projecto:
– Estudo enquadratório do parque na cidade;
– projecto do parque (“económico”), que envolverá dois paisagistas (Teresa Anderson e António Monteiro);
– aquisição do solo para que se torne municipal.
Sete milhões de euros nos primeiros dois anos
A previsão “soft” do urbanista, que soma aquisição de solo com obras de manutenção e outras, aponta para cerca de 7 milhões de euros. Referindo a necessidade de diálogos, mobilização de meios e agentes, o horizonte para esta fase é de dois anos.
Num primeiro período, será feito o estudo de enquadramento, permitindo o estudo prévio do parque. “Ao mesmo tempo, num prazo muito rápido devemos começar a conversar com os proprietários”, defendeu o urbanista, “não só para se envolverem mas para se disponibilizarem para vender o seu espaço à câmara”.
Ainda neste espaço temporal, e com a previsão de três frentes urbanas, “pelo menos uma delas deve avançar através de uma parceria urbanística”, defendeu. Um processo previsto na lei que “significa delimitar uma unidade de execução, juntar proprietários e investidores”, e, em conjunto, dividir os encargos de uma forma equitativa, assimo como, posteriormente, os lucros, esclareceu Jorge Carvalho.
O objectivo passa ainda por um processo de grande participação pública. O trabalho de colaboração que agora começa deverá envolver também as juntas de freguesia de S. Victor, Gualtar e Adaúfe.
“É um dos principais projectos para Braga nos próximos anos” – Miguel Bandeira
O vereador do património e urbanismo, Miguel Bandeira, recordou o “longo” caminho que tem sido percorrido e as principais vitórias alcançadas nos últimos anos, com o enfoque natural para a classificação como Monumento Nacional. Entretanto as mães de água voltaram a ter cor, devolvendo um aspecto preservado e limpo.
Referindo que este é “um dos principais projectos para Braga nos próximos anos”, Miguel Bandeira afasta um ajuste de contas com a história, e realça o envolvimento do movimento cívico, associações, partidos políticos em torno das Sete Fontes ao longo dos tempos e que defende, deve continuar.
Ricardo Rio aponta cinco ideias base presentes na estratégia do município
Património, participação, processo, projecto, Parque das Sete Fontes. Estes são os cinco eixos do autarca para o trabalho que começou esta terça-feira.
Perante os jornalistas e proprietários, autarcas e uma candidata à CMBraga, Ricardo Rio apontou a componente do património como elemento chave deste espaço que envolve o monumento, a paisagem e o valor da água.
Ricardo Rio quer a participação de todos, defendendo que é preciso “mobilizar para esta causa” bracarenses no geral, autarcas e proprietários.
Um processo longo que se pretende também “transparente” e “discutido” até porque “não é um projecto normal, mas sim um projecto com múltiplas dimensões”, referiu.
Ricardo Rio sublinha a importância do Parque Eco monumental das Sete Fontes ser “o mais intocável possível, criando condições para a valorização e fruição do espaço”.
Num diálogo que prevê “intenso e contínuo com os proprietários”, o edil de Braga acredita que a cidade saberá acolher da melhor forma o Parque das Sete Fontes.
Questionado pela RUM sobre a complexidade de todo o processo em torno de uma promessa com quatro anos, Ricardo Rio considera que este “não é o ponto de partida”, afirmando que há quatro anos, enquanto candidato “nunca disse que o parque seria integralmente disponibilizado neste mandato”. Para o autarca, o município “tem tentado dar os passos necessários para que, tão cedo quanto possível, o parque seja uma realidade”. Ainda assim, admite que esta matéria “vai exigir para o futuro muitas iniciativas e muito trabalho em articulação com várias entidades”.
Dois proprietários apareceram de surpresa na conferência de imprensa
José Veloso de Azevedo e Ermelindo Sequeira, dois dos proprietários com as maiores parcelas de terreno nas Sete Fontes, assistiram à conferência de imprensa. No final, deixaram críticas à postura do actual executivo, desmentindo, até ao momento, conversações com a autarquia para um acordo neste processo.
José Veloso, proprietário de aproximadamente 100 mil metros quadrados, deixou críticas ao actual executivo: “Assaltou-se um banco e agora vamos fazer dele o dinheiro que queremos”, disse, desmentindo qualquer tipo de diálogo com a autarquia, ao contrário do que vinha a ser anunciado por Ricardo Rio no último ano.
Considerando que se trata de “uma injustiça”, o conhecido empresário promete seguir pela via judicial. “Os meus terrenos tinham capacidade construtiva e não me parece razoável que agora se invoque que é uma zona verde e como tal são terrenos que praticamente não têm valor nenhum. É uma injustiça, vou impôr uma providência cautelar e lutar pelos meus direitos que são legítimos”, prometeu.
Mais informações sobre o urbanista Jorge Carvalho podem ser consultadas aqui
