Utentes reclamam regresso de psicoterapia de grupo ao ACES de Braga

Dezenas de utentes do Agrupamento de Centros de Saúde do Cávado I de Braga terão ficado em Julho sem sessões de psicoterapia de grupo, uma terapia colectiva, ainda pouco utilizada no nosso país, mas que no caso era comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde. 

Os utentes que participavam semanalmente nas sessões viram o tratamento interrompido no final de Julho. Desde então não há consultas e os utentes voltaram à lista de espera para atribuição de um psicólogo para acompanhamento individual. Inconformados, decidiram romper com uma das regras principais da psicoterapia de grupo: A confidencialidade e o contacto entre utentes fora destas sessões.


O tratamento funciona em grupos com um máximo de dez elementos cada. É feito semanalmente com adultos e com crianças numa sala com características específicas.


A situação foi denunciada à RUM por dois elementos de um dos grupos que há praticamente um ano integravam esta terapia. Joana e Andreia, duas das utentes que se assumem como porta-vozes, referem que até hoje este foi o único tratamento a surtir efeitos positivos. “O processo faz com que a gente perceba que é através do outro que nós nos conhecemos, e nos outros identificamos muitos dos nossos problemas. Em todo o processo terapêutico, que não chegou a um ano, eu evoluí imenso”, explicou à RUM Joana. Andreia concorda. “Era uma sessão muito introspectiva. Tudo o que a terapeuta dizia na sessão tiravamos alguma coisa para nos ajudar a nós mesmos. Durante este processo sem terapia tenho notado que fiquei com ferramentas para nalgumas situações perceber que não devo agir assim e lembrar-me do que é que se fazia”, confessa.

Sessões realizavam-se na UCC Assucena Lopes Teixeira

As sessões de uma hora e meia decorriam semanalmente numa sala com condições acústicas específicas e que garantia privacidade, na Unidade Cuidados na Comunidade Assucena Lopes Teixeira. O tratamento seria interrompido no final de Julho e retomado em Setembro, mas na última sessão, em Julho, a terapeuta terá informado os utentes de que em Setembro as sessões passariam a acontecer na unidade de saúde Paulo Orósio, o que acabou por não se verificar.

“Disse-nos que deixaria de ter a sala e que iríamos para uma sala no Paulo Orósio, só que a sala em si não reunia as condições para ter consultas de grupo”, conta Andreia. Os doentes não se conformam e temem que questões financeiras possam ter levado ao fim das sessões. 

Foram feitas diferentes reclamações no ACES de Braga, mas estas utentes garantem que até hoje nenhuma resposta lhes foi dada. Joana refere que tudo começou pela sala, mas até hoje “não houve um único contacto para indicar que as sessões tinham terminado, ou se no futuro serão retomadas”. Depois de várias tentativas de contacto, os doentes tomaram conhecimento da saída da terapeuta do agrupamento.

O desespero dos diferentes elementos de um dos grupos levou-os a quebrar uma das regras elementares do tratamento: a confidencialidade. 

“O facto de estarmos sentadas as duas já algo está mal. O que quero é a recuperação das sessões”, reclama Andreia. Joana sublinha que as pessoas que estão nestes grupos “não têm uma simples dor de cabeça” e alerta para as consequências negativas e retrocesso na vida destes doentes com diferentes problemas do foro psicológico. 

Contactado pela RUM, o Director do ACES de Braga explicou que a terapeuta em causa trabalhava apenas vinte horas por semana e não se manifestou disponível a fazer um horário completo. Entretanto, deixou de exercer funções naquele centro de saúde. 

Numa reorganização que o ACES de Braga está a levar a cabo e tendo em conta a longa lista de espera para consultas de psicologia, o agrupamento optou por aumentar para seis o número de psicólogos, tendo por enquanto como prioridade reduzir a lista de espera e acompanhar mais utentes por mês com consultas individuais.

O que é a psicoterapia de grupo?

A psicoterapia de grupo é um tratamento caro e ainda pouco habitual no Serviço Nacional de Saúde, e em Braga seria praticamente pioneiro. Um tratamento cujos resultados parecem ser mais rápidos e eficientes. Os grupos são organizados por um terapeuta específico que já acompanhou cada paciente de forma individual. A sua permanência no grupo para o tratamento exige o cumprimento de uma série de regras. A terapia de grupo resolve e reeduca os doentes com base nas interacções e comunicações que ocorrem no interior dos grupos organizados com fins terapêuticos.

Um modelo de actuação terapêutica que surgiu após a Segunda Guerra Mundial quando o psicossociólogo americano Kurt Lewin trabalhou um grupo de pessoas com fins terapêuticos. Acreditou que os indivíduos sentem uma acção de efeitos terapêuticos ao ouvir outras pessoas a falar dos seus problemas e de como eles podem ser resolvidos.

Elsa Moura
Elsa Moura

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